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A ameaça dos "isentões espíritas"


Uma grande ameaça que tem nos debates em torno da deturpação do Espiritismo é a ação de patrulheiros diversos chamados de "isentões espíritas". São pessoas que se dizem "equilibradas", "imparciais" e "objetivas", adotam o verniz da "racionalidade" e da "moderação", e se manifestam incomodados quando as contestações ao "espiritismo" brasileiro começam a se ampliar.

Quando essas contestações pesam muito nas irregularidades dos "médiuns", como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, entre outros, soa o alarme e os patrulheiros vêm com uma força tarefa, geralmente com mensagens publicadas em fóruns digitais na Internet ou em textos publicados em blogs.

Eles se dizem "ponderados", mas sabemos que isso é uma grande falácia, porque eles não seguem o rigor da lógica e do bom senso da obra de Allan Kardec. Em vez disso, costumam defender, como "espiritismo legítimo", um "meio-termo" entre o cientificismo kardeciano e a deturpação, alegando estarem contra "excessos" de um lado e de outro.

O "isentão espírita" diz ser contra a igrejificação do Espiritismo, mas se conforma e apoia o igrejismo quando ele vem de Chico Xavier e afins, porque aqui vem a desculpa de que esse igrejismo "está dentro dos limites permitidos pela tradição religiosa brasileira e pelos ensinamentos do Cristo".

Outro aspecto do "isentão espírita" é que ele diz "não ser dono da verdade", mas persiste em argumentações verossímeis, por vezes bastante nervosas, que pedem para ver o "outro lado da questão". Como, por exemplo, a falácia de que, se alguém considera que Chico Xavier deturpou a Doutrina Espírita, encontre argumentos para "considerar" que ele honrou a mesma doutrina.

A maquiagem retórica apela para uma suposta neutralidade, que em nada acrescenta nos debates sobre a deturpação. Em vez disso, cria-se uma falsa imparcialidade, feita apenas para deixar tudo como está, apesar de certas posições "críticas" que os "isentões espíritas" costumam adotar.

Eles, por exemplo, dizem "admitir erros" na trajetória de Chico Xavier. Criticam os livros de Emmanuel, falam mal da "catolicização do Espiritismo" e surgem alguns espertalhões que condenam os "Vaticanos e Constantinos" que surgem na "seara espírita". Mas fazem isso só para dizer que eles não são sectários nem fanáticos.

Outro aspecto a observar é que eles pedem para que Chico Xavier, Divaldo Franco e similares sejam "admirados não como semi-deuses, mas como pessoas humildes, imperfeitas e falíveis". Embora essa atribuição pareça agradável, ela é tendenciosa: tenta manter a idolatria aos "médiuns" mesmo com os erros, gravíssimos, que eles cometeram e, da parte dos que ainda vivem, continuam cometendo.

Na verdade, essa postura é a complacência do erro que põe os "isentões" em contradição. Eles ficam falando para não termos complacência com o erro do outro, não aceitarmos isso comodamente, mas eles o fazem. E, o que é pior, querem que Chico, Divaldo e similares sejam vistos como "mestres" mesmo tendo essas falhas, que em verdade os fazem ser não espíritos "falíveis", mas falidos.

A atuação desses "médiuns" na deturpação espírita não foi acidental nem motivada pelo entusiasmo pelas raízes católicas. Mas torna-se um processo perverso de desfiguração doutrinária, no qual os ensinamentos originais se perdem e, no lugar da honestidade e da lógica, se permitem "licenças" que contrariam os postulados espíritas do pedagogo francês.

Os "isentões espíritas" também são marcados por um relativo desprezo ao Espiritismo original, porque eles, apesar de defender a essência espírita, em tese, não aprovam o cientificismo kardeciano, que alegam ser "exagerado", por causa da "overdose de razão". Com isso, os "isentões" se acham, conforme o ditado, "mais realistas que o rei", e acham que o "espiritismo único, o de Kardec" não é o de Kardec, mas a mistura de alhos com bugalhos dessa doutrina com a deturpação.

É como se eles quisessem um "equilíbrio" entre o joio e o trigo. Adotam um discurso de "moderação" que nada tem de moderado, mas tem de muito tendencioso. Daí que os "isentões espíritas" são comparados aos sofistas da Grécia Antiga, verdadeiros manipuladores das palavras que enganavam as pessoas com ideias sem pé nem cabeça, mas trabalhadas com palavras e retóricas bem arrumadas, de forma que uma mentira descarada parecesse uma "verdade indiscutível".

Daí o perigo dos "isentões espíritas" - mais traiçoeiros que muitos "espíritas" fanáticos, pelas máscaras de "imparcialidade" e "moderação" adotadas - que se espalham pelas redes, como patrulheiros do "espiritismo" brasileiro, de forma a evitar que os debates contra a deturpação espírita cheguem ao ponto de desqualificar e enfraquecer o poder de uma doutrina igrejista que se tornou o suposto Espiritismo que se trabalha aqui no Brasil.

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