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Confirmado: Espiritismo, no Brasil, é repaginação do Catolicismo medieval


A constatação é certeira e confirmada pelas próprias ideias. O que se conhece como Espiritismo, no Brasil, nunca teve realmente a ver com o que oficialmente se atribui, um suposto respeito aos postulados doutrinários originais, trazidos no século XIX pelo pedagogo Allan Kardec. Esses postulados nunca foram devidamente respeitados na sua íntegra, sendo mais bajulados do que seguidos.

O que se conhece como Espiritismo é, na verdade, uma repaginação do Catolicismo medieval, que foi introduzido no Brasil, durante o período colonial, pelos catequistas da Companhia de Jesus, os chamados "jesuítas".

Em Portugal, nos séculos XVI e XVII, o Catolicismo ainda mantinha práticas medievais, como a Inquisição e as condenações perversas das queimas humanas em praça pública, sob o pretexto de expurgar a sociedade de pessoas hereges que cometeram "desvios aos ensinamentos cristãos" (eufemismo para a desobediência à supremacia da Igreja Católica).

Nessa época, vigoraram as atividades da Companhia de Jesus no Brasil. Elas ocorreram até o século XVIII, quando, por consequência de um devastador terremoto sucedido de maremoto que atingiu Portugal e, principalmente, Lisboa, causando incontáveis danos materiais e mortes, em 1755, o primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, decidiu cancelar os trabalhos jesuítas no Brasil, por considerarem bastante caros.

O Marquês do Pombal realizou um severo programa de cortes de gastos e achava que era muita despesa investir na Companhia de Jesus numa grande colônia que era o Brasil. Com isso, ele mandou os jesuítas voltarem para casa e as escolas deixaram de ter a responsabilidade da instituição católica.

Evidentemente, os jesuítas não gostaram. E a catequização foi prejudicada, o que fez o Brasil viver um hiato, embora a influência católica permanecesse na então colônia portuguesa e seu legado tivesse deixado marcas muito fortes na população ou mesmo entre indígenas e parte dos negros.

REAÇÃO DE "FALANGES ESPIRITUAIS"?

Evidentemente, é bastante duvidoso falar em "falanges espirituais". No caso de supostas psicografias e pictopsicografias, a presença de espíritos de diferentes épocas e lugares não só é bastante duvidosa como seu resultado é bastante sofrível, aquém do talento que os mortos haviam deixado para nós quando estavam vivos.

No entanto, é possível que, no caso da reação de espíritos de jesuítas, tenha havido uma "sintonia" coletiva na indignação pelo fim da Companhia de Jesus no Brasil. Diante disso, os espíritos de jesuítas, muito provavelmente, teriam se aproveitado de uma novidade chamada Espiritismo ou Doutrina Espírita para pegarem carona e se apropriarem dela.

Com sua habilidade de proselitismo, dentro da habilidade da catequização em assimilar a "cultura do outro" para enfraquecê-la e impor a sua, os jesuítas que chegaram a aprender tupi-guarani e a estudar hábitos indígenas para, "em troca", convertê-lo à Igreja Católica, na sua forma de espíritos desencarnados estariam interessados em usar o Espiritismo como um meio de repaginarem o Catolicismo medieval.

Vale lembrar que, desde o século XIX, o Catolicismo passou por muitas mudanças, de forma que ele deixou de servir de espaço para correntes medievais, pelo menos da forma como elas se expressavam no seu tempo. Mesmo correntes conservadoras passaram por modernizações que fizeram da Igreja Católica uma religião que, ao lado da Igreja Batista, soube adaptar aos tempos atuais.

Mesmo a Teologia do Sofrimento é uma corrente minoritária dentro do Catolicismo. Sua maior representante, Madre Teresa de Calcutá, é considerada um dos maiores ídolos do Catolicismo, mas ela pouco condiz ao que pensam os católicos hoje em dia e ela mais parece ter uma admiração externa, mais próxima de movimentos religiosos conservadores em geral.

No Brasil, a Teologia do Sofrimento ganhou devoto mais expressivo na figura de Francisco Cândido Xavier. Há católicos brasileiros defensores dessa corrente, mas nenhum com a visibilidade e o prestígio de Chico Xavier, blindado pelas elites e pelo poder midiático, à maneira de Madre Teresa no exterior.

O próprio Chico Xavier evocou o espírito do padre Manuel da Nóbrega, talvez com base nos livros de História que o "médium" leu muito, e o jesuíta foi rebatizado pela alcunha de Emmanuel, com base da antiga assinatura do "Ermano Manoel", "E. Manoel".

É ainda controverso que Chico Xavier tenha psicografado Emmanuel ou ele o tenha ditado através do contato intuitivo. Sabe-se que as obras "mediúnicas" de Chico Xavier são fake, por haver milhares de provas consistentes de irregularidades graves, que através de um exame lógico e cauteloso podem ser reconhecidos como fraudes.

Mesmo assim, as ideias de Manuel da Nóbrega coincidem com as que Chico Xavier defende, concordando com Emmanuel. Moralismo ultraconservador, ênfase nos sacrifícios humanos acima dos limites, posturas sociais reacionárias, análogas à reforma trabalhista, à "cura gay" e à Escola Sem Partido.

Isso mostra o quanto o "espiritismo" brasileiro só é progressista na embalagem, na fachada. Seu conteúdo é surpreendentemente conservador. Mas como as pessoas não costumam observar muito as coisas no Brasil, o "espiritismo" brasileiro, cujo ultraconservadorismo o faz concorrer cabeça a cabeça com as seitas evangélicas "pentecostais", se passa por "progressista" mesmo defendendo coisas como aguentar desgraças em silêncio e defender o trabalho exaustivo e a servidão.

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