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"Espiritismo" não triunfa sob pesadas críticas



Um terrível cacoete que o "espiritismo" brasileiro adota é dizer que as críticas duras que recebe "são uma excelente propaganda" dessa doutrina deturpada que existe no Brasil. Arrogantes, seus palestrantes e articulistas costumam dizer coisas como "É muito bom receber esses comentários bastante negativos porque eles assim divulgam a nossa doutrina".

Grande engano. Isso não é bom. Não adianta adotar a tática do "fênix-pavão" e achar que, sob uma chuva de pedras, voltará glorioso depois de terrivelmente derrotado. A arrogância "espírita", que combina vitimismo com triunfalismo, tenta se fazer prevalecer com essa postura, ao mesmo tempo presunçosa e hipócrita.

Temos que admitir que o "espiritismo" brasileiro virou uma colcha de retalhos dos piores erros que a espécie humana pode cometer, desde crimes que cidadãos comuns cometem e botam na conta dos "espíritos obsessores" até obras literárias fake que usam falsas identidades de autores mortos e se valem de "mensagens cristãs" para afastar suspeitas e promover sensacionalismo.

A religião virou um vale-tudo mistificador e doutrinário, uma desordem que até os próprios "espíritas" dizem admitir como realidade, mas subestimam e livram o "médium" Francisco Cândido Xavier, popularmente conhecido como Chico Xavier, de culpa.

Grande engano. Chico Xavier foi o mais "peralta" desses usurpadores brasileiros que arruinaram o legado kardeciano, fazendo o que bem entendiam com a Doutrina dos Espíritos. Ele lançou um ridículo livro poético, Parnaso de Além-Túmulo, que denúncias diversas já comprovaram ser uma armação de editores da FEB para promover sensacionalismo barato, e apoiou fraudes de materialização, assinando "atestados".

Além disso, Chico Xavier foi um reacionário explícito, e suas ideias, expostas em livros e depoimentos, mesmo quando atribuídas a "espíritos do além", expressam abertamente pautas surpreendentemente ultraconservadoras, que deixariam os progressistas que ainda adoram o "médium" caírem das nuvens de tanto sonharem.

Ele é que abriu o caminho para os desordeiros entrarem. E, por isso, deveria ser responsabilizado, mas não da forma um tanto cafajeste de dizer "todo mundo erra" ou "ele errou sim, mas aprendeu", porque ele nunca aprendeu. Chico Xavier sempre foi o inimigo interno que bagunçou o Espiritismo, só não cometeu mais traquinagens porque, em dado momento, passou a ficar gravemente doente.

O "espiritismo" brasileiro é uma sucessão de irresponsabilidades. A religião personifica muitos males que eram advertidos desde a Antiguidade:

1) CANTO-DE-SEREIA - O episódio da Odisseia de Homero (século VIII a. C.), no qual sereias tentam seduzir Ulisses, que ordena seus tripulantes a amarrarem-no em um mastro para evitar a tentação de seguir as sereias, é uma parábola à resistência de apelos traiçoeiros de suposta beleza (como o chamado "bombardeio de amor", love bombing), tais como os mais recentes envolvendo a propaganda de Chico Xavier.

2) SOFISTAS - A falsa sabedoria com pretensa e persistente argumentação, própria das ideias de Chico Xavier, já havia sido descrita por Platão, nos relatos sobre a vida de Sócrates (século V a. C.), como um alerta sobre o perigo de se dar ouvidos a manipuladores de palavras, que se aproveitam da ignorância das pessoas para enganá-las com ideias confusas e mistificadoras. Chico Xavier usava a máscara da religião para fazer tais manobras.

3) VELOCINO DE OURO - Mais antigo que os casos acima, Moisés, que viveu no século XV a. C., tem uma passagem na qual, depois de escrever as leis que ele atribuiu à inspiração divina (os chamados Dez Mandamentos), se irritou ao ver as pessoas que o aguardavam estavam fazendo orgias em nome de um ídolo, a estátua de um carneiro chamado Velocino de Ouro. A adoração a Chico Xavier, mesmo sem o aparato materialista de tais orgias, segue a mesmíssima e perigosa catarse.

4) ESCRIBAS E FARISEUS - Jesus Cristo, que viveu no século I de nossa era, sempre foi enérgico nas suas críticas contra os falsos sábios, aqui descritos como "escribas" e "fariseus" e, às vezes, "saduceus". São falsos sábios marcados pela extravagância religiosa, pela falsa humildade e pelo culto à personalidade. Chico Xavier seria uma forma moderna dessas figuras nunca aprovadas por Jesus.

5) VENDILHÕES DO TEMPLO - A comercialização de artigos religiosos em templos de oração era também reprovada severamente por Jesus. Ele teria pego um chicote e feito barulho, para chamar a atenção das pessoas e reclamar dessa prática. Hoje em dia, o mercado literário "espírita" se alimenta da mitificação de Chico Xavier e sua literatura fake chega ao ponto de fazer com que Humberto de Campos não tenha seus livros originais mantidos em catálogo, para não prejudicar as "psicografias".

Devemos nos lembrar que os mercadores de artigos religiosos também diziam que "vendiam para a caridade", como desculpa para continuar comercializando diante dos templos. Atualmente os "espíritas" usam como artifício a disponibilização de títulos antigos gratuitamente na Internet, como pretexto para abafar acusações de comercialização e como forma de atrair mais fiéis para a religião igrejista brasileira.

Esses aspectos são gerais. Mas há outros, como a culpabilização das vítimas no moralismo "espírita", que demonstra escancaradamente uma pauta reacionária, aspecto que muitos se recusam a admitir no "espiritismo" brasileiro, cujo conservadorismo os coloca em posição menos favorável em relação ao Catolicismo, que pôde se adequar aos tempos e possui uma corrente progressista, a Teologia da Libertação.

O "espiritismo" brasileiro, através das pregações deixadas por Chico Xavier, é medieval. Seu conteúdo ideológico - que envolve conceitos semelhantes ao da "cura gay", da Escola Sem Partido e da reforma trabalhista defendidos pelo conservadorismo político dos últimos anos - é retrógrado e baseado na Teologia do Sofrimento, corrente do Catolicismo da Idade Média que se baseia na apologia à desgraça humana como meio de "encurtar o caminho para Deus".

Isso é fato e faz, nas redes sociais, os "espíritas" adotarem mil malabarismos nas palavras para tentar desmentir que sua religião é ultraconservadora. Tentam criar metáforas onde não existe, fingem assumir erros para não enfrentar suas consequências e adotam argumentos ligados ao pensamento desejoso, que constituem no atual fenômeno da pós-verdade, que parece entusiasmar muito o "espiritismo" brasileiro.

São tantos aspectos negativos que o vitimismo "espírita" tenta de sair bem dessa, quando está naturalmente em desvantagem. Não há como fingir que está gostando das críticas pesadas que surgem como "pedradas do céu". As manias de vitimismo (se fazer de vítima) e triunfalismo (supor que se sairá bem de qualquer encrenca) só comprovam uma única coisa: o "espiritismo" brasileiro não sabe perder.

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