Admitir que "todo mundo erra" não contribui, por si só, para melhorar as coisas. Em muitos casos, mostra apenas que privilegiados cometem erros mas não querem sofrer as consequências, e isso se baseia na falácia de que, se "todo mundo erra, ninguém será condenado por isso".
Espiritismo, no Brasil, infelizmente está associado à deturpação roustanguista. Allan Kardec é somente um nome bajulado, porém mal compreendido, levianamente interpretado e nunca seguido nos seus conselhos e alertas mais preciosos.
Diante dessa realidade, os "médiuns que erram" ou "médiuns imperfeitos" são uma grande farsa que só serve para manter eles sob uma adoração "mais discreta", supostamente retirados de seus pedestais divinizadores, mas transferidos para outros "pedestais", bem mais "pé-no-chão".
A mania de dizer que "todo mundo erra", num momento em que o governo Jair Bolsonaro virou uma vergonhosa coleção de erros, muitos deles graves, soa mais como um recurso para proteger a vaidade humana, de livrar as pessoas da ruína que causam contra si mesmas, de de poupar o grave infrator de sofrer as consequências de seus atos equivocados.
A pessoa comete um estrago mas não quer pagar o prejuízo. Daí ela diz que é "imperfeita", que "assume seu erro", como meio de disfarçar o seu orgulho e evitar ser arruinado. Os "médiuns" cometeram e cometem desvios doutrinários que afetam seriamente a Doutrina Espírita, mas não querem perder a reputação que obtiveram nem devolver os prêmios recebidos na Terra, premiações opulentas demais para quem veste o manto da "humildade" e do "desapego material".
ESPIRITISMO NÃO É FAVORECIDO
Engana-se que admitir a "imperfeição" dos "médiuns" permite uma melhor compreensão do Espiritismo no Brasil. Em nenhum momento. A religião brasileira sofre uma erosão doutrinária, porque se perdeu do caminho traçado pela doutrina francesa e se aventurou num igrejismo dotado de paixões materiais, das quais a "caridade" e o uso dos nomes dos mortos são apenas ganchos para fazer propaganda religiosa e promover idolatria aos "médiuns".
A tese dos "médiuns imperfeitos" não contribui em momento algum para que o Espiritismo avance nas pesquisas e estudos doutrinários, sobretudo no que se diz ao contato com os mortos e à compreensão do mundo espiritual.
Da mesma forma, admitir que Francisco Cândido Xavier, conhecido como Chico Xavier, e seu parceiro e discípulo Divaldo Franco, são "imperfeitos", não faz o Espiritismo ficar mais autêntico, não estimula a melhoria das atividades doutrinárias e nem permite que os ensinamentos de Allan Kardec se tornassem melhor compreendidos.
Pelo contrário, a tese dos "médiuns imperfeitos" deixa tudo como está. Talvez até a idolatria divinizada continue, só que mais disfarçada. O sentimento obsessivo em torno dos "médiuns" se mantém, só que disfarçado por desculpas supostamente realistas, e mesmo o endeusamento a eles permanece, mesmo com a suposta reprovação do "movimento espírita" como um todo.
Só que admitir que "médiuns erram muito" é mais ou menos do que dizer que vacas sagradas também "fazem suas necessidades". Torna-se inútil e, o que é pior, mantém-se as piores atividades. O desvio doutrinário permanece, apenas mal disfarçado pelas interpretações "corretas" da literatura kardeciana. Ver Divaldo Franco indo para programas de TV interpretar "corretamente" as ideias de Kardec em nenhum momento contribui para a melhoria doutrinária.
Isso é certo porque, na verdade, o que se vê é a coexistência expositiva entre os ensinamentos espíritas originais e os conceitos igrejeiros da deturpação. De um lado, a "correta" interpretação dos postulados espíritas franceses, de outro os louvores igrejeiros de sempre. E é vergonhoso que "médiuns" como Divaldo Franco e José Medrado se encorajem em denunciar as fraudes mediúnicas dos outros.
As pesquisas sobre os contatos com os mortos estão paradas. Enquanto isso, as psicografakes seguem em frente, com o uso do morto da moda em supostas mensagens espirituais que mais soam como um misto de roteiros repetidos com propaganda religiosa: a mesma retórica do espírito que "foi para o umbral, depois para a colônia espiritual, e aí conheceu o Evangelho e, no final, pede às pessoas da Terra que se unam na paz em Cristo".
Isso continuará acontecendo. O mais grave é que a ideia de que "médiuns também erram muito" só reforça a zona de conforto do "espiritismo à brasileira", que mantém a sujeira do igrejismo medieval, das falsas psicografias, e do moralismo ultraconservador, tudo isso jogado debaixo do tapete sob uma narrativa hipócrita que bajula insistentemente a pessoa de Kardec, sem que ele seja devidamente compreendido.
E o mais constrangedor é que, com essa mania de dizer "os médiuns erram muito, os médiuns erram muito", se possa permitir que eles façam o que querem, como sempre o fizeram, e fazer de Kardec "gato e sapato", traindo ele o tempo todo, mas, da boca para fora, jurar falsa fidelidade, dentro daquele discurso demagogo e hipócrita de "não vamos só entender Kardec, mas viver Kardec no dia a dia". O mito de que "todo mundo erra" só faz o "espiritismo à brasileira" permanecer na hipocrisia.
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