Pular para o conteúdo principal

Erros de História, Geologia, Geografia e Sociologia derrubam "mediunidade" de Chico Xavier



Por sorte de Francisco Cândido Xavier é que ele viveu num país desinformado como o Brasil, porque, se observarmos uma série de erros de História, Geologia e Sociologia presentes em seus livros e na sua suposta "profecia" da "data-limite", ele simplesmente seria desqualificado, de maneira definitiva, como o "médium" que se tornou ao sabor das conveniências e dos jogos de interesses.

Isso porque, se ele realmente fosse um médium, mesmo considerando riscos de falhas e imperfeições, ele teria tido um mínimo de esforço em acertar em vez de cometer erros gravíssimos, sobretudo na transmissão de informações. Não são, portanto, erros que a permissividade deixasse passar, mas são verdadeiros crimes de responsabilidade, uma vez que Chico Xavier assumiu seu risco de supor ao povo brasileiro e ao do resto do mundo sua missão de "transmitir a mensagem dos mortos".

O que se nota, por exemplo, em livros como Há Dois Mil Anos (ou Há 2.000 Anos), atribuído a Emmanuel por Chico Xavier, são erros graves correspondentes a uma complexa e diferenciada estrutura política do Império Romano. Uma delas é a questão das castas familiares, que naquela sociedade não permitia a escolha do nome Flávia para o casal Públio Cornélio Lentulus e Lívia, que destoa das derivações dos nomes dos genitores.

Há outras obras com muitos erros, tantos que são suficientes para derrubar a competência mediúnica atribuída a Chico Xavier e o reprovasse por completo. A lista completa de erros está acessível neste endereço, com informações trazidas pelo historiador da UFRJ, Lair Amaro, cabendo, aqui, mostrar alguns exemplos extraídos de Obras Psicografadas nesta e em outras páginas do portal:

"A grafia original dos Evangelhos já representa, em si mesma, a própria tradução do ensino de Jesus, considerando-se que essa tarefa foi delegada aos seus apóstolos". (Livro O CONSOLADOR, de Francisco Cândido Xavier, atribuído a Emmanuel, FEB, 1941)

Erro: Nós não temos os textos originais dos evangelhos, eles se perderam. A cópia mais antiga que temos de um evangelho canônico é do ano 125, e só resistiu ao tempo um pedaço do tamanho de um cartão de crédito. E não há evangelho escrito em aramaico, todos foram escritos em grego. O aramaico é que era a língua de Jesus. Então que grafia original é essa que ele está falando, já que não foi em aramaico?

"Poderias descansar um pouco na Palestina, levando a família para essa estação de repouso". (Livro HÁ DOIS MIL ANOS, de Francisco Cândido Xavier, atribuído a Emmanuel, FEB, 1939)

Erro: É um problema sério demais dizer para um romano no séc. I que a Palestina era uma “estação de repouso”. O lugar com o maior nº de rebeliões foi na Palestina. Havia bandidos, insurgentes, movimentos revolucionários, movimentos de resistência… Flávio Josefo narra que duas cidades na Palestina se recusaram a pagar impostos a Roma e os romanos simplesmente não foram nem cobrar os impostos. Chegaram lá e crucificaram 500 pessoas na beira das estradas em um dia só, entre homens, mulheres e crianças. Será que o repouso do romano guerreiro é ficar matando judeus? Não faz o menor sentido isso.

"Flávia Lentúlia, filha de Públio Lentulo". (Livro HÁ DOIS MIL ANOS, de Francisco Cândido Xavier, atribuído a Emmanuel, FEB, 1939)

Erro: O nome da filha de Lentulus, Flávia Lentúlia, é uma verdadeira aberração. A menina era filha de um Cornélio Lêntulo e de uma Lívia; se o pai seguisse o uso patrício tradicional, ela chamar-se-ia Cornélia, e nada mais. Admitindo-se, contudo, que os pais fossem menos “tradicionalistas”, e mais abertos a algumas novidades já presentes na onomástica romana na primeira época imperial, algumas possibilidades poderiam ser consideradas para a denominação dessa menina; em ordem decrescente de probabilidade, seriam elas:

a)         Cornélia, a denominação mais provável, utilizando apenas o gentílico paterno, ainda atestada entre os Cornélios da época imperial, inclusive entre os próprios Cornélios Lêntulos;

b)         Cornélia Livila, na qual ao gentílico paterno acrescentar-se-ia uma forma diminutiva “cognominizada” do gentílico materno, indicando que a moça em questão era filha de um Cornélio e de uma Lívia;

c)         Cornélia Lívia, uma polinomia, na qual, ao gentílico paterno acrescentar-se-ia o gentílico materno, também para se indicar que a moça em questão era filha de um Cornélio e de uma Lívia;

d)         Lívia Lentulina (ou Lentulila), na qual, ao gentílico materno, acrescentar-se-ia uma forma feminina conveniente (no diminutivo afetuoso) do cognome “Lêntulo”; dar-se-ia ênfase ao fato de a menina ter em suas veias sangue dos Lívios, sem desdenhar o fato de que também tinha sangue dos Cornélios Lêntulos;

e)         Cornélia Lentulina (ou Lentulila), na qual, ao gentílico paterno, acrescentar-se-ia uma forma feminina conveniente (no diminutivo afetuoso) do cognome “Lêntulo”;

f)          Cornélia Lívia Lentulina (ou Lentulila), mesmo caso anterior, mas com o uso de dois gentílicos, o paterno e o materno (polinomia); enfim,

g)         Cornélia Livila Lentulina (ou Lentulila), na qual, ao gentílico paterno, acrescentar-se-iam como cognomes uma forma “cognominizada” do gentílico materno e uma forma conveniente (no diminutivo afetuoso) do cognome paterno.

Todas essas opções são, ao menos, plausíveis (sendo que a mais provável é a tradicional “Cornélia”, sem mais nada); no entanto, o nome escolhido foi a aberração “Flávia Lentúlia”, em termos onomásticos romanos uma autêntica monstruosidade: por que utilizar como nome gentílico da criança a forma gentílica feminina “Flávia”, se ela era uma Cornélia, e não uma Flávia, e se, além do mais, sua mãe era uma Lívia, e não uma Flávia? E (horror dos horrores!), por que acrescentar a esse gentílico extemporâneo uma forma adjetivada do cognome paterno (“Lentúlia”), de forma a torná-lo como que um gentílico, algo jamais atestado no meio e na época?

"PROFECIA" DA "DATA-LIMITE"

Outro dado a considerar são erros de Sociologia, Geografia e Geologia trazidos pela suposta "profecia da data-limite" de Chico Xavier, um processo que causa polêmica. Apesar de muitos adeptos do "médium" não acreditarem nessas "profecias", atribuindo a elas um caráter catastrofista e ufologista, sob o pretexto delas terem sido divulgadas por terceiros (Geraldo Lemos Neto e Marlene Nobre), elas fazem sentido pois o próprio Chico deu amostra dessas "previsões" em seus livros e depoimentos, inclusive o Pinga Fogo da TV Tupi, em 1971.

Essas "profecias" já cometem o erro de desunir os adeptos de Chico com tamanha polêmica, e o mais constrangedor é que, se alguns chiquistas não acreditam nesse dom "profético" do "médium", eles preferem acreditar em outra asneira, que é de supor que o beato de Pedro Leopoldo teria sido reencarnação de Allan Kardec, uma hipótese absolutamente insustentável, em rigorosamente todos os sentidos.

Considerando a "profecia" como uma obra de Chico Xavier, ela apresenta erros de abordagem muito graves, o que anula completamente o crédito dessas predições, que seguem uma visão binária das tragédias naturais e dos conflitos bélicos, sugerindo uma migração de povos fora da realidade, sem perceber as condições climáticas nem sociológicas afins. Alguns exemplos

1) O Chile seria poupado de catástrofes naturais, como terremotos, maremotos e erupções vulcânicas, que destruiriam lugares como o Japão, a Islândia e os Estados do Havaí e Califórnia, nos EUA.

Tese absolutamente inconcebível. No caso do Japão, da Islândia, do Havaí e da Califórnia e áreas similares desaparecerem pela ação de atividades sísmicas e vulcânicas intensas, o Chile teria fatalmente o mesmo destino, por fazer parte do Círculo de Fogo do Pacífico. Vale lembrar que o Chile tem dezenas de vulcões ativos e sua atividade sísmica já causou vários terremotos e maremotos, incluindo um dos mais trágicos, ocorrido em maio de 1960, com um número estimado de, pelo menos, 5,7 mil mortos.

2) Os povos eslavos migrariam para a região do Nordeste brasileiro.

Grande absurdo. Afinal, na época em que Chico Xavier nasceu, em 1910, o Brasil já viveu a migração dos povos eslavos. Os imigrantes de origem eslava, vindos de países como a Polônia, a Bulgária, a Croácia, a Rússia e parte da Hungria, vieram para habitar o Sul do Brasil e o interior de São Paulo, que possuem condições climáticas compatíveis com seus lugares de origem. O calor nordestino lhes seria incômodo e até fatal, por causa do choque térmico que poderia lhes causar.

3) Os povos da América do Norte (EUA, Canadá e México) passariam a viver na Amazônia e Estados próximos (como Amapá, Roraima, Acre e Pará).

Este é um grande equívoco de natureza sociológica. E dos mais graves. Por razões óbvias, esses povos, pelo menos os estadunidenses e canadenses, migrariam, no caso de uma hipotética destruição do Hemisfério Norte, para os Estados do Sudeste, ou, quando muito, para o Paraná. Os mexicanos, por sua natureza socialmente inferior conforme a supremacia hierárquica dos EUA, poderiam migrar para áreas modestas dos mesmos Estados, ou então migrarem para o Nordeste brasileiro.

EXTRA-TERRESTRES

Outro erro grave, presente não só na "profecia da data-limite" mas também em livros e depoimentos diversos de Chico Xavier, é atribuir aos extra-terrestres a missão de "salvação da humanidade". Mesmo que isso fosse possível, supor tal hipótese, da maneira como Chico Xavier fez, é de uma vergonhosa leviandade que a literatura kardeciana, que já rejeitaria em definitivo a "profecia da data-limite", reprovaria sem a menor hesitação.

Aliás, muito das obras e atividades de Chico Xavier simplesmente o desqualificam como "médium". A fascinação obsessiva, sentimento bastante doentio de emotividade mórbida e fanática, faz com que as pessoas façam alguma consideração a Chico Xavier e o relativizem nos seus erros mais graves. Mas a descrição dos erros acima anula o mérito de sua suposta mediunidade, por razões muito simples.

Afinal, ele cometeu erros muito graves para serem relativizados. São erros de informação, que fazem com que a compreensão da natureza humana fosse seriamente comprometida. Afinal, a desonestidade historiográfica de vários livros desmente a suposta atribuição de que essas obras vieram de "espíritos benfeitores" que, supostamente, teriam vindo com revelações e informações novas a respeito de fatos históricos, pois se imagina que o mundo espiritual ocultaria muitos segredos da humanidade.

Como as obras de Chico Xavier não vão além de informações trazidas pelos limites de compreensão ao nível da ignorância do chamado "brasileiro médio", isso significa que as "psicografias" revelam uma essência fraudulenta, porque mesmo em situações falhas se podem transmitir informações ocultas, e não vergonhosos erros de informação, como o completo desconhecimento do "médium" de regras específicas de hierarquia política e familiar das elites do Império Romano.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Espiritismo, no Brasil, é reduzido a uma religião de louvor

O igrejismo com que foi tratado o Espiritismo, no Brasil, é muito mais grave do que se imagina e muito mais danoso do que se pode parecer. A catolicização, defendida sob o pretexto de que o Brasil expressa as tradições da religiosidade cristã, impossibilitou a compreensão correta da temática espírita, substituída por valores místicos e uma suposta fraternidade igrejeira que em nada resolve os conflitos humanos existentes. Tudo virou uma religião de mero louvor. Apesar das bajulações a Allan Kardec e da interpretação errada de suas ideias, seus ensinamentos nem de longe são sequer cumpridos e só eventualmente eles servem apenas para serem expostos de maneira distorcida e tendenciosa, de forma a temperar a vaidade explícita mas nunca assumida dos palestrantes e "médiuns". A adoração a Francisco Cândido Xavier, um sujeito de sórdida trajetória - ele se ascendeu às custas de pastiches literários lançados para provocar sensacionalismo - mas depois promovido a um semi-deus e

Como explicar, no Brasil, a deturpação do Espiritismo?

A vexaminosa cobertura dos 150 anos de morte de Allan Kardec atentou para uma grande omissão de uma informação importante. A de que o Espiritismo, no Brasil, foi desenvolvido desviando-se dos ensinamentos originais do pedagogo francês. Nem mesmo a BBC Brasil, sucursal da estatal britânica que, na sua equipe brasileira, prima por escrever bons textos de informação abrangente e senso investigativo, se encorajou a cobrir a deturpação do Espiritismo, se limitando a fazer, na prática, um press release  da "Federação Espírita Brasileira". Até o termo "espiritismo à brasileira", que denomina a deturpação, foi apenas mencionado sem que seu significado fosse sequer citado vagamente. A imprensa brasileira, mesmo a de esquerda, praticamente age em silêncio, salvo raras exceções, quanto à deturpação do Espiritismo. Poucos têm a coragem de alertar que a chamada "catolicização do Espiritismo" não é um fenômeno acidental nem ele é resultante de uma "saudável i

Com Espiritismo, brasileiros levam gato por lebre, sem saber

Nunca o Roustanguismo foi tão bem sucedido quanto no Brasil. O nome de Jean-Baptiste Roustaing, ou J. B. Roustaing, cujo sobrenome é considerado um palavrão por uma parcela do "movimento espírita", é desconhecido do grande público, mas seu legado foi dissolvido como açúcar em comida salgada e muitos acreditam que um roustanguismo repaginado é "espiritismo de verdade". Como o Roustanguismo teve no Brasil seu terreno mais fértil? Porque o igrejismo roustanguiano, apesar de oficialmente renegado na retórica "espírita", foi inteiramente seguido, descontado apenas alguns pontos incômodos, como os "criptógamos carnudos" (reencarnação humana em forma de animais, plantas ou vermes) e o "Jesus fluídico" (tese de que Jesus de Nazaré nunca passou de um fantasma "materializado")? Os brasileiros não gostam de serem informados de que o Espiritismo que aqui existe é deturpado e comete desvios doutrinários em relação à doutrina francesa