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Mito de "caridade" de Chico Xavier é uma grande mentira



Isso soa como uma grande carteirada. Seguidores de Francisco Cândido Xavier sempre apelam para o mesmo refrão quando tem alguma denúncia ou crítica relacionada a ele, mostrando seus aspectos negativos, que são muitos e gravíssimos. "Ele errou, mas pelo menos fez caridade".

Superestima apenas o fato de Chico Xavier ter sido simpático e gentil com as pessoas, porque isso é tão banal quanto beber água. Embora muitos tremam de medo ao se comparar Chico Xavier com Jair Bolsonaro (ambos são muito semelhantes em trajetória arrivista e afins no conservadorismo ideológico, só discordando no que diz à violência), admite-se também que o atual presidente da República tem seus arroubos de bonachão, valendo a famosa comparação com o palhaço Bozo.

Isso não quer dizer que Chico Xavier seja um primor de bondade, como se fala por aí. Ele se valeu do prestígio religioso, que é a pior das ambições humanas, pela pretensa superioridade que isso pode significar para multidões emocionalmente vulneráveis, para se promover diante de uma imagem supostamente divinizada e muito mal disfarçada com a falácia "gente como a gente" do "médium imperfeito", em moda nos últimos tempos.

Chico Xavier cometeu perversidades. Não poucas. Teria usurpado o nome de Humberto de Campos para se vingar de uma resenha sobre Parnaso de Além-Túmulo que não agradou o "médium" e adotou para o "espírito do escritor maranhense" um estilo diferente e igrejeiro, que nem de longe refletia o estilo que teve o autor de Carvalhos e Roseiras.

Ele fez juízos de valor contra pessoas humildes que foram assistir a um espetáculo circense, em Niterói, em dezembro de 1961, que terminou em um incêndio criminoso. Insensível com a tragédia das pessoas pobres, o "humilde" Chico Xavier acusou as vítimas daquele 17 de dezembro macabro no Gran-Circo Norte-Americano de terem sido pessoas sanguinárias numa encarnação distante, na Gália (região do Império Romano correspondente à França), no século II.

Note-se que atribuir encarnações distantes e superadas é demonstração de falta de misericórdia por parte de Chico Xavier, que, diante de tão perverso juízo de valor, se escondeu no pseudônimo "Irmão X", cometendo mais atrocidade, botando a culpa em Humberto de Campos (livro Cartas e Crônicas, 1966) pelo maldoso juízo de valor dado por Chico Xavier que, à maneira do ditado "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", pedia aos outros para "nunca julgarem quem quer que fosse".

Chico Xavier apoiou a ditadura militar, em várias declarações dadas em 1971 ao programa Pinga Fogo, na TV Tupi de São Paulo, incluindo comentários muito agressivos aos movimentos operário, camponês e sem-teto, uma posição reacionária que deveria ser vista com atenção pelos esquerdistas. Afinal, foi um reacionarismo convicto, e com muitas provas consistentes, que derrubam o mito de que um ídolo religioso fosse incapaz de ser uma pessoa reacionária e ultraconservadora.

TEOLOGIA DO SOFRIMENTO E ASSISTENCIALISMO

O que também deve ser considerado é que Chico Xavier sempre foi adepto da Teologia do Sofrimento - corrente que levava o medievalismo católico às últimas consequências - , conhecida no exterior através de Madre Teresa de Calcutá.

A Teologia do Sofrimento é uma espécie de "holocausto do bem", uma apologia à desgraça e ao infortúnio humanos como supostos meios de reduzir a distância do caminho para o Paraíso. Essa ideologia macabra é uma espécie de "quanto pior, melhor" da religião, pois prega que os sofredores devam aceitar viver suas desgraças, por mais extremas que fossem, sob o pretexto de que estarão "mais próximos de Deus".

Isso é justamente o que Chico Xavier defendeu nos seus livros e depoimentos. Ele reprovava o questionamento, o senso crítico, a lamentação. Ele apoiava o trabalho exaustivo, pedia para as pessoas aguentarem infortúnios em silêncio, e usava o "paraíso" (que se revela fictício) de Nosso Lar como "recompensa" para os masoquistas da fé.

Só a Teologia do Sofrimento pode ser enquadrada como "omissão de socorro" do "espiritismo à brasileira" e, principalmente, de Chico Xavier. Isso em boa parte derruba o persistente "mérito da caridade" atribuído ao "médium", porque isso nega a ideia de que ele "dedicou toda sua vida em prol dos necessitados". "Médium" dos pés descalços, defendendo a aceitação da desgraça humana? Isso é inconcebível.

Além do mais, Chico Xavier nunca praticou filantropia, tendo na verdade apelado para pedir aos outros que ajudassem. É como uma cigarra que pede para as formigas trabalharem e, depois, se promove com o trabalho delas. Vejamos alguns pontos negativos dessa "filantropia":

1) Chico Xavier pedia a outras pessoas a contribuir com atividades institucionais, donativos etc. Ele cruzava os braços e só ia para fazer propaganda, visitando as instituições e posando ao lado de gente humilde, como na foto que ilustra essa postagem;

2) O tipo de "caridade" adotado é o Assistencialismo (apesar de creditado, tendenciosamente, como Assistência Social). É uma "caridade" de baixos resultados sociais, não combate a pobreza em definitivo, não compromete os privilégios dos mais ricos e rende mais idolatria ao suposto benfeitor. As ações são meramente paliativas e não trazem transformação alguma na vida das pessoas. Até porque o Brasil nunca progrediu nas mãos de Chico Xavier. E não foi por falta de adoração a ele, mas pelo contrário, já que ele é adorado em níveis bastante obsessivos.

Concluímos que o mito de "caridade" que se atribui a Chico Xavier é uma grande mentira, sendo mais um escudo para um deturpador do Espiritismo se promover de qualquer maneira. Isso soa uma espécie de "carteirada moral", uma mal disfarçada manifestação de orgulho por conta dessa atribuição de "caridade" que estranhamente focaliza mais o suposto benfeitor, deixando os mais necessitados em segundo plano.

E isso é condenado pela Doutrina Espírita original, que em várias passagens alertava para espíritos mistificadores que usam a "caridade" como meio de forçar o apoio incondicional das pessoas. Só isso já mostra o quanto o alarde de que "Chico Xavier fez caridade" é algo estranho, lembrando aquele ditado popular: "quem muito diz ser, é porque não é".

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