Apesar de sua fachada modesta, despretensiosa e supostamente esclarecedora, o "espiritismo" brasileiro é a religião mais desonesta do Brasil. Ela se fundamenta nas traições igrejistas cometidas contra o pioneiro Allan Kardec, ao mesmo tempo em que finge seguir a mais absoluta fidelidade aos seus ensinamentos.
A religião "espírita" brasileira é uma grande teia de dissimulações, um intrincado jogo de aparências que encontra no nosso país um terreno fértil, onde pessoas desinformadas ou precariamente informadas se tornam receptivas a embustes como este, de forma bastante confusa.
Há muita confusão na compreensão sobre o que realmente foi a Doutrina dos Espíritos original. A sorte é que há uma retórica bastante organizada que dá a falsa impressão de que a deturpação do Espiritismo é um processo saudável de adequação às tradições da religiosidade brasileira. Mas, em verdade, não é assim que a realidade se apresenta.
Através dos desvios doutrinários cometidos desde o início pela "Federação Espírita Brasileira", quando a obra Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing, teve preferência à obra original de Kardec - que teve que passar por uma "higiênica" tradução, do dirigente Guillon Ribeiro, e depois que a deturpação foi popularizada por Francisco Cândido Xavier - ele mesmo um católico ultraconservador - , o que se conhece como Espiritismo no nosso país se motivou pela desonestidade intelectual.
Num país em que a falta de concentração impede muitos brasileiros de se dedicarem profundamente a práticas simples como a leitura de um livro e a audição de uma música, a mediunidade não encontrou terreno fértil. Em vez disso, o que temos como "psicografias" são mensagens apócrifas, produzidas "às escuras" ou diante de um público ansioso, que sempre apresentam problemas nos aspectos pessoais atribuídos aos supostos autores espirituais.
FRAUDES NA OBRA DE CHICO XAVIER
Isso é certo de que há fraude. Mesmo a figura badalada e popular como Chico Xavier, tido como "médium sério" - apesar das contraditórias alegações de que ele "também errava" - , é associada a denúncias preocupantes de fraudes, das quais ele não participou sozinho, porém é um de seus responsáveis mais graves, sejam estas irregularidades relacionadas aos pastiches literários ou à "leitura fria", entre outros artifícios.
Os pastiches literários eram organizados por Chico Xavier sob a supervisão de Antônio Wantuil de Freitas, a revisão de outros dirigentes da FEB - fontes revelaram as participações de Manuel Quintão e Luís da Costa Porto Carreiro Neto - e a orientação de consultores literários a serviço da federação. A partir daí, são produzidas imitações de estilos literários que até apresentam algumas semelhanças, em certos casos, mas sempre falham nos aspectos pessoais dos supostos autores espirituais.
No caso da "leitura fria", ela é um processo de interpretação psicológica que os entrevistadores a serviço de Chico Xavier faziam com os parentes de pessoas mortas e que se tornou um hábito corrente nos "centros espíritas" de todo o Brasil. Trata-se de uma interpretação sutil, não só com base no que é declarado pelos entrevistados, mas também por reações e gestos feitos em seus depoimentos, além de interpretações ocultas sobre aspectos pessoais dos falecidos.
A partir disso, constroem-se dados pessoais bastante encorpados, cheios de informações. Em muitos casos, quando uma tia ou professora de um morto traz uma informação que os pais desconhecem, surge então a "informação difícil" que, enganosamente, dá às pessoas a falsa impressão de que a "psicografia" é autêntica por apresentar informações "pouco conhecidas".
A essas práticas desonestas também incluíram, da parte de Chico Xavier, o respaldo às práticas de falsa materialização. Nelas, se faziam duas coisas: uma é colocar fios de gazes ou esparadrapos na boca de um suposto médium, botar algodão em cima, e às vezes alguma foto em tamanho menor de uma personalidade morta. Outra é chamar uma pessoa para servir de modelo, usar uma roupa branca que cobrisse toda a cabeça e nela colocar outra foto de um morto, em tamanho um pouco maior.
São atuações desonestas que, em país menos ingênuo como o Brasil, desqualificariam Chico Xavier por definitivo. Em vez disso, criam-se relativismos não só desnecessários, porém nocivos, motivados pelo fanatismo religioso e pela fascinação obsessiva ao suposto médium, que, como manipulador de mentes, seduzia a todos pelo perigosíssimo artifício do "bombardeio de amor".
O "bombardeio de amor" não é a coisa maravilhosamente positiva que muitos pensam, mas um meio muito traiçoeiro de dominação. Pessoas estranhas usam apelos de falsa afetividade para atrair suas vítimas, e as seduzem mostrando aspectos de profunda beleza, como paisagens floridas, céus ensolarados e crianças sorridentes. Todo um aparato é feito para simular religiosidade, serenidade, humildade e outras virtudes, enganando as pessoas com esse repertório de "lindos apelos".
Daí que, com o "bombardeio de amor", Chico Xavier fez com que o Espiritismo acabasse virando refém de seus próprios deturpadores, chegando mesmo a apostar na falácia da "raposa reconstruindo o galinheiro" quando se fala em supostamente recuperar as bases doutrinárias originais.
PIOR DO QUE AS SEITAS NEOPENTECOSTAIS
E isso tudo fez da religião "espírita" a mais desonesta do Brasil. Isso é doloroso para muitos, mas é comprovado por inúmeros fatos. E isso é muito grave, porque as religiões evangélicas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus e a Assembleia de Deus, são desonestas no trato com o dinheiro e na exploração dos fiéis, mas seus dogmas são sinceramente assumidos como obscurantistas e conservadores.
Já o Espiritismo, no Brasil, é pior. A religião segue um moralismo punitivista e ultraconservador - herança de Jean-Baptiste Roustaing - , que traz valores como os "resgates espirituais" e a "culpabilidade da vítima", e faz apologia à desgraça humana como suposto "atalho para Deus" através da Teologia do Sofrimento.
Apesar disso, os "espíritas" nunca assumem esse lado obscurantista. Eles apresentam uma "embalagem" muito diferente: são "modernos", "esclarecedores", "lógicos", "racionais", "futuristas", "altruístas", "progressistas", "generosos" e "solidários". Mas tudo isso é propaganda enganosa para atrair fiéis, que, se envolvendo nas instituições "espíritas", acabam levando gato por lebre.
Quem for mais atento vai descobrir que até a "caridade", principal desculpa do "espiritismo" brasileiro adotar seus equívocos e abusos por supostamente compensar tudo isso com filantropia, é uma mera falácia. O que é, na verdade, a "caridade espírita" é feita por terceiros, pois nada é feito por suas lideranças, que cruzam os braços apenas dizendo para os outros doarem seus pertences ou atuarem em práticas como produção de sopas e trabalhos de enfermaria.
Sim, é isso mesmo. Nem Chico Xavier fez caridade. A "caridade" tão associada a ele sempre foi uma encenação nos moldes que hoje se vê nos quadros "filantrópicos" do Caldeirão do Huck - Luciano Huck é admirador confesso de Chico Xavier, vale lembrar - , que são moldados no Assistencialismo.
O Assistencialismo é uma caridade fajuta, com baixos resultados sociais, mas cuja prática é movida por muito alarde e propaganda, de forma a causar a comoção pública. Os resultados variam entre realizações pontuais a poucas pessoas ou a ações meramente paliativas, que em nada contribuem para combater a pobreza em nosso país. O Assistencialismo é uma "caridade" que ajuda mais o suposto benfeitor do que os necessitados.
Daí a idolatria dada a Chico Xavier que, com isso, usa a "caridade" como carteirada para que as pessoas consintam som seus erros, muitos deles graves, por causa dessa desculpa esfarrapada. E esquecemos que as "caravanas da caridade" de Chico Xavier nunca passaram de espetáculos levianos de pura ostentação, com uma euforia demasiada a ações medíocres que apenas adotam medidas paliativas, sem trazer a real emancipação do povo pobre.
Até nisso o "espiritismo" brasileiro tornou-se desonesto, e as pessoas são enganadas por todo um jogo de aparências que é sempre sustentado por uma propaganda atraente que é sempre tida como "legítima" pelas paixões religiosas que as pessoas têm a essa religião que traiu Kardec e que hoje é uma versão repaginada do Catolicismo medieval que vigorou nos tempos do Brasil-colônia. Levamos gato por lebre e nos iludimos com a sua graciosidade.
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