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Fala-se mal de crianças cultuando princesas. E os adultos cultuando "médiuns"?



Os adultos são muito mais dissimulados do que as crianças. Como se estivessem com razão das coisas, ralham a criançada porque as meninas estão gostando das princesas da Disney e vendo televisão para cultuar, como "divindades", personagens de desenho animado e ícones musicais de gosto duvidoso, como vemos hoje com o grupo sul-coreano BTS.

Uns até falam das famílias que orientam mal as suas crianças, os seus meninos gostando de super-heróis da Marvel, as suas meninas cultuando princesas da Disney. Falam que falta uma educação digna, que os pais estão preocupados com o sucesso profissional e financeiro, esquecem de dar uma formação social digna para seus filhos e os deixam à sorte do que a mídia difunde para estes.

No Brasil, porém, algo tão grave quanto adorar super-heróis e princesas é o que se vê quando pessoas, sendo ou não "espíritas" - adeptos de um suposto kardecismo que não consegue esconder suas raízes roustanguistas - , ficam adorando o "médium" Francisco Cândido Xavier.

Chico Xavier é mais blindado que político do PSDB e o pior deturpador da história do Espiritismo, que se ascendeu fazendo literatura fake, e suas obras são verdadeiros desvios doutrinários graves, puxando para trás o que o Espiritismo original tentava levar para a frente.

Assim, do Iluminismo original da obra kardeciana, se pôs no seu lugar o obscurantismo medieval do Catolicismo que o movimento jesuíta introduziu no Brasil. E isso foi por responsabilidade pessoal de Chico Xavier, que evocou o padre Manuel da Nóbrega como seu guia espiritual, sob o codinome Emmanuel. Isso diz muito para a medievalização que o legado kardeciano recebeu no Brasil.

O endeusamento de Chico Xavier, a partir de uma imagem construída nos últimos 40 anos, de um pretenso "símbolo da caridade e da paz", para servir de cortina de fumaça para as tensões vividas na ditadura militar. Juntos, governo militar e Rede Globo se uniram para, através do pretenso pacifismo de Chico Xavier e o sensacionalismo das "cartas mediúnicas" (que na prática repaginavam as orgias sobrenaturais das Tábuas Ouija) para evitar a redemocratização do Brasil.

A idolatria é tão obsessiva, motivada principalmente por apelos imagéticos que envolvem jardins floridos, céus azuis e crianças sorridentes - sem falar que Chico Xavier falava em cãezinhos e gatinhos pulando e correndo no mundo espiritual - , que as pessoas se sentem envergonhadas e confusas diante dessa adoração tão mórbida.

Hoje costuma-se dissimular a idolatria da seguinte forma: atribui-se a Chico Xavier a imagem do "médium imperfeito", do "homem que errou muito", seus adoradores dizem que "não praticam idolatria, mas admiração saudável a uma pessoa de bem" e ficam dizendo que ele "não é salvador da pátria, nem milagreiro etc".

Essas pessoas se confundem de tal forma que não conseguem explicar se Chico Xavier foi para o céu ou vai reencarnar como "missionário". Se atrapalham para explicar por que um "médium que errou muito" foi para o Céu usufruir o "banquete dos puros". Acham ser possível um sujeito imperfeito pular fases de evolução por causa do prestígio religioso que, como todo prestígio, é artificialmente construído pelas atribuições terrenas.

A adoração a Chico Xavier pelos adultos e pelos idosos é até mil vezes pior do que a das crianças aos super-heróis de revistas em quadrinhos, ou às princesas da Disney. Em muitos casos, as crianças são muito mais pés-no-chão, e sua adoração se limita ao âmbito de um hobby, sem que isso interferisse em suas vidas normais.

Já a adoração da "gente grande" a Chico Xavier é motivada por um enorme aspecto de morbidez, de dependência psíquica gravíssima, de apego a uma imagem fantasiosa do "ignorante que virou sábio", uma farsa que, se observarmos os pontos ocultos da trajetória do "médium" - sobretudo os escândalos que ele cometeu no passado, gravíssimos casos de desonestidade e provocação de confusões - , simplesmente não faz o menor sentido.

Alguns adoradores de Chico Xavier vão logo dizendo "eu não sou espírita". Não se sabe por cargas d'água se eles estão envergonhados de serem identificados à "religião espírita" ou se eles querem ser vistos como "imparciais" na idolatria ao "médium".

A dissimulação é tanta que o "movimento espírita" costuma alardear, de maneira estranha, que reprova o fanatismo. Só que a adoração a Chico Xavier sempre sucumbe ao fanatismo, como um metal atraído pelo imã, por mais que as pessoas tentem evitar. E, numa discussão entre quem gosta e quem não gosta de Chico Xavier, são os que gostam dele os mais desequilibrados emocionalmente.

Há provas na Internet de que Chico Xavier tinha seguidores desequilibrados, odiosos, vingativos. O falecido espírita autêntico Jorge Murta escreveu, no final da vida, que recebeu ameaças diversas dos seguidores do "médium", pelas revelações desagradáveis e pelas críticas que escreveu sobre ele.

Mas no passado havia também exemplos. O sobrinho Amauri Xavier recebeu ameaças de morte dos seguidores de seu tio. A morte prematura do rapaz, em 1961, teria sido a concretização dessa ameaça. E o palestrante "espírita" mineiro Henrique Rodrigues escreveu um artigo rancoroso a respeito do sobrinho do "médium".

Muitos pais de família, muitos avós, se enfurecem quando há alguma revelação desagradável, por mais realista que fosse, sobre Chico Xavier. Agem pior do que quando crianças são alertadas de que Papai Noel nunca existiu. Uma senhora chegou a ficar irritada, segundo revela Dora Incontri (uma das poucas pessoas que no Brasil lutam pela fidelidade doutrinária ao Espiritismo francês), porque esta lhe revelou que o "médium" apoiou a ditadura militar.

E mais. Muitos acham que Chico Xavier apoiou a ditadura - e com suas próprias palavras - "porque foi forçado" e essa tese não faz o menor sentido, porque ele levou às últimas consequências esse apoio, comparecendo, com gosto, a homenagens que os adeptos da repressão e da tortura dedicavam a ele. Nem o humanista mais conservador se daria a esses caprichos. Um sujeito que fosse "forçado"a apoiar não levaria longe, com tanto entusiasmo, essa "obrigação".

Aqueles comentários de Chico Xavier contra os movimentos operário, camponês e sem-teto - que as esquerdas subestimam, da parte do "médium" - , não teriam sido sugestão de "ponto" da produção do Pinga Fogo ("ponto" é um fone no qual a direção de um programa se comunica com alguém que está no estúdio para dar recados), porque o discurso do "médium", embora evocasse clichês do discurso reacionário de 1964, foi dado com uma espontaneidade surpreendente.

As pessoas que adoram Chico Xavier tentam moldar sua personalidade pelo pensamento desejoso. Isso é grave. As crianças que tanto adoram heróis e princesas raramente chegam a esse ponto de colocar a fantasia acima da realidade.

A gente miúda é muito mais realista do que a "gente grande", porque esta luta para que Chico Xavier sobreviva apenas nas fantasias mais agradáveis, escondendo as atrocidades (como a "psicografia" que usurpava e ofendia a memória dos mortos) que ele havia feito em sua vida.

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