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Filme Kardec não esclarece problemas da Doutrina Espírita e só piora as coisas


CENA DE KARDEC - O FILME.

Allan Kardec virou refém dos deturpadores brasileiros. Essa triste constatação não é noticiada em lugar algum, a não ser nos pequenos círculos genuinamente espíritas, que como Cassandra de Troia, não conseguem ser ouvidos em suas denúncias.

Ninguém investiga, ninguém questiona. O que se conhece como Espiritismo é uma grande farsa, porque foi uma religião surgida com base no Roustanguismo. De que adianta falar que o Espiritismo, no Brasil, aprendeu depois a correta teoria de Allan Kardec - se bem que isso nunca se observou na prática - , se o legado roustanguista de uma forma ou de outra se efetivou, por mais que o sobrenome de J. B. Roustaing, quando mencionado pelos "espíritas" brasileiros, soa como um palavrão?

Evidentemente, quando Francisco Cândido Xavier adaptou o Roustanguismo para a realidade brasileira, numa revisão e ampliação do pensamento do advogado de Bordéus, a deturpação do Espiritismo se consolidou e as promessas de "recuperação das bases doutrinárias" de Kardec foram uma conversa para boi dormir na qual muita gente acreditou ingenuamente.

Afinal, o Espiritismo original, trazido pelo pedagogo de Lyon, foi deturpado e desfigurado. Mas, como numa equação matemática cuja primeira operação deu errado e as seguintes etapas foram feitas corretamente, pouco importa se o resultado está errado, ele é tido como "certo" porque só a primeira etapa foi errada, as etapas seguintes, ainda que guiadas pelo resultado errado da inicial, são tidas como "certas".

A "Federação Espírita Brasileira" nasceu sob o signo do Roustanguismo, mas como depois foi acolher um "Kardec desfigurado", a partir de uma suposta psicografia de 1889 - na qual um suposto Kardec pedia para conhecermos "a revelação da Revelação" (subtítulo do livro de Roustaing, Os Quatro Evangelhos) - , o "kardecismo" passou a se guiar nessa visão deturpada do Codificador.

Se o Codificador é desfigurado, então "não há deturpação". A matriz falsificada faz uma sucessão de réplicas "honestas", como na equação matemática de várias etapas, citada acima, em que a primeira operação é errada, mas as posteriores são corretas, mas guiam sempre no resultado errado, ainda que sua correção seja erroneamente reconhecida e legitimada.

Diante disso, como falar para o público comum que o Espiritismo é deturpado? A imprensa se limita a fazer reportagens chapa-brancas, como esta matéria da Folha de São Paulo. O longa-metragem Kardec - O Filme, é feito sob essa perspectiva deturpada brasileira, que muitos não percebem porque, nos últimos 40 anos, o "espiritismo" no Brasil passou a adotar uma postura "correta" que parece convincente à primeira vista.

O filme de Wagner de Assis - cuja vocação em propagar a deturpação é confirmada pelo fato dele ter dirigido Nosso Lar, sobre a (não-assumidamente) ficticia "cidade espiritual" - não resolve os problemas da má compreensão do Espiritismo. Pelo contrário, só faz piorar, ainda por cima apoiado por reportagens chapa-brancas como esta.

A narrativa simplória da Folha de São Paulo, que consulta apenas fontes suspeitas e ligadas aos deturpadores, afirma, erroneamente, que "a doutrina renasce no Brasil por meio de Bezerra de Menezes (1831-1900) e, depois, cresce com a força midiática de Chico Xavier (1910-2002), contam os especialistas. Fala-se assim, tão vagamente, sem saber que "especialistas" são esses. E aceita-se, com submissão bovina.

O filme Kardec apenas é uma estratégia para deixar o "movimento espírita" como está, investindo em dois truques: um é "catolicizar" a pessoa de Kardec, um "cientista cético que conheceu a fé espírita", e outro, é de dar um verniz de "racionalidade" ao igrejismo medieval de deturpadores como o próprio Chico Xavier.

Isso só faz manter e até piorar a deturpação da Doutrina Espírita, e mostra o quanto nossos jornalistas precisam aprender muito. Até mesmo a imprensa investigativa deveria, neste caso, investigar a fundo a deturpação, mesmo que ela revele pontos que comprometam a imagem "adorável" que oficialmente se faz da religião brasileira.

Afinal, a função do jornalismo investigativo não é proteger abordagens agradáveis, e o próprio Kardec não tinha medo do senso crítico e investigativo, ao passo que Chico Xavier, deturpador doutrinário, tinha, e muito.

O jornalismo investigativo autêntico não te medo de penetrar na seara da religião, de pôr em xeque os dogmas da fé nem de desqualificar ídolos religiosos. A verdade é dotada de pontos desagradáveis e os aspectos ocultos do Espiritismo, para desespero de muitos, confirmam que a religião é mais suja do que pau de galinheiro, jogando seu roustanguismo debaixo do tapete.

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