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Por que os brasileiros têm medo de verificar a deturpação do Espiritismo?


CRIANÇAS, JARDINS FLORIDOS, DIA DE SOL - OS APELOS SENTIMENTAIS QUE O "ESPIRITISMO" USA PARA ATRAIR PÚBLICO.

No cenário político confuso em que vivemos, os brasileiros precisam verificar os seus valores e crenças, porque tudo o que parecia fazer sentido há 40 anos não faz mais sentido agora. E, no caso do "espiritismo à brasileira", isso se torna bastante preocupante.

Afinal, as pessoas não sabem que o Espiritismo no Brasil é desfigurado, e de forma tão grave e traiçoeira que o que entendemos como "Doutrina Espírita" não passa de uma versão repaginada do Catolicismo medieval que prevaleceu no país durante o período colonial.

A desinformação é generalizada, mas o pior nem é isso. É o medo do esclarecimento diante de fatos desagradáveis. Ver que há uma traição em relação aos postulados espíritas originais é chocante, mas é bem mais chocante é que as pessoas que ignoram isso não querem saber. Todos parecem apegados a ilusões das quais imaginam serem o "terreno do esclarecimento, do equilíbrio e da sensatez".

Começa-se a perceber o que está de errado nos brasileiros considerados "normais". O que os brasileiros querem, do que eles têm medo, quais são suas neuroses. Com a recente vitória de Jair Bolsonaro para a Presidência da República, os brasileiros "do bem" mostraram seu lado sórdido, defendendo o porte de armas, puxando o tapete dos outros e rompendo amizade com aqueles que se recusaram a ir às passeatas de "coxinhas" e "bolsomínions" contra Dilma Rousseff.

Mas mesmo pessoas de esquerda são desafiadas a responder, neste contexto, se elas realmente querem ser de esquerda. Ou se pessoas que dizem curtir rock realmente querem curtir rock. Ou se aquele empresário casado com uma mulher atraente realmente a ama e a deseja. O Brasil é perguntado sobre o que realmente quer na vida, depois que, dos anos 90 para cá, agravou-se os conflitos quanto às pretensões, ambições, perversidades e dissimulações humanas.

Num país menos ingênuo, a deturpação do Espiritismo seria investigada. Se existe algo errado, as pessoas não fecham os olhos. Se denúncias acontecem com provas, as pessoas não se recusam a vê-las, assim como ouvir os denunciantes e tomar um posicionamento ante a decepção de uma religião que imaginavam ser uma coisa e é outra e, ainda por cima, marcada por desonestidades.

Mas como vivemos num Brasil marcado pelos apegos emocionais doentios, as pessoas resistem. Em vez de se decepcionarem com a deturpação do Espiritismo, tentam criar falsos argumentos para desmentir o que é comprovado. Há provas consistentes sobre a deturpação do Espiritismo e sobre o como nossos "espíritas" traem Allan Kardec para depois lhes darem o "beijo de Judas". E isso 24 horas por dia, sete dias por semana, o tempo todo.

"BOMBARDEIO DE AMOR"

Embora a roupagem pretensamente modesta, supostamente despretensiosa e falsamente humilde do "espiritismo" brasileiro consiga enganar até pessoas com considerável grau de esclarecimento, há outros apelos que servem tanto para "segurar" aqueles que seguem essa doutrina igrejista quanto para seduzir os leigos que não têm ideia sequer do que é essa religião.

O principal desses apelos é o perigosíssimo "bombardeio de amor", que é o maior truque que mantém a popularidade do suposto médium mineiro Francisco Cândido Xavier, que, apesar de oficialmente ser tido como "o maior médium do Brasil", tem trajetória nebulosa cheia de irregularidades, cujas provas existem, são robustas e, não fosse o fanatismo de seus seguidores, teriam lhe derrubado em definitivo, num caminho sem volta da decadência.

Enquanto a imprensa hegemônica tenta, por influência da "Federação Espírita Brasileira", criar uma narrativa "limpinha demais" da História do Espiritismo, ainda mais quando Allan Kardec é rebaixado a um protagonista de "telenovela" cinematográfica chamada Kardec - O Filme, e a imprensa alternativa e de esquerda fica em silêncio, ela também com medo de pôr em xeque "médiuns" supostamente associados à filantropia e ao pacifismo, o marasmo se segue.

O "espiritismo" brasileiro sofre uma erosão doutrinária, de tanta deturpação que é feita. Kardec virou refém de seus deturpadores, que acolhem apenas parcialmente as ideias kardecianas que lhes convém, e, em certos casos, apelam para a apropriação tendenciosa de Erasto, que nunca iria apoiar essa farra que se faz sob o rótulo de "Doutrina dos Espíritos".

Tudo se reduziu a um igrejismo tão viciado que os assuntos "espíritas" praticamente se limitaram a banalidades moralistas que não são estritamente religiosas, portanto não sendo específicas do Espiritismo. A exaltação a Chico Xavier é uma aberração em si, que envolve sentimentos de fanatismo nunca assumido como tal, e motivado pela cegueira emocional sustentada por um complexo rol de falácias e ilusões.

O próprio mito de Chico Xavier - cuja trajetória arrivista não difere muito de Jair Bolsonaro, assim como o ultraconservadorismo compartilhado por ambos - tem muitos aspectos nebulosos e preocupantes, escândalos que envolvem uma provável "queima de arquivo", pois desconfia-se que a morte prematura de Amauri Xavier, seu sobrinho, que ameaçava denunciar o "movimento espírita", inclusive seu tio, de fraudes diversas, teria sido por envenenamento, conforme denúncia de Manchete (09.08.1958) de que o jovem recebia ameaças de morte do "meio espírita".

Como um Lula ao avesso, existem provas robustas que derrubariam Chico Xavier, mas não o derrubam. TODAS as suas "psicografias" apresentam irregularidades diversas: são iguais entre si, possuem a mesma temática, falham em apresentar aspectos pessoais dos supostos autores mortos (famosos ou não), e, no caso das obras "literárias", o conteúdo tem qualidade claramente inferior ao que os escritores falecidos deixaram em vida.

As pessoas são tomadas do "bombardeio de amor" que faz de Chico Xavier um ídolo, seja na forma de um "semi-deus" colecionador de supostas virtudes insólitas, seja da forma de um "ser humano imperfeito" visto como um suposto humilde. A idolatria atinge, em ambos os casos, níveis obsessivos terríveis, dos quais as pessoas sentem muita dificuldade em romper.

Esses sentimentos obsessivos são motivados pela suposta imagem virtuosa de Chico Xavier, manifesta junto a fotomontagens que inserem o "médium" em paisagens floridas, céus azulados ou inserem trechos de depoimentos e livros em ilustrações de crianças sorridentes, inserindo muita pieguice, embora seus seguidores, dissimulados, achem que isso é apenas uma "adoração simples de um homem imperfeito mas bom" e pensem que estão sendo "esclarecidos" e "equilibrados" com isso.

O mais grave é que ninguém consegue romper com Chico Xavier. Se as pessoas que manifestam sua idolatria a ele são criticadas, principalmente esquerdistas, que não têm razão para apoiar o "médium", que em toda sua vida foi uma personalidade de extrema-direita (isso mesmo, é só ver o Pinga-Fogo e ver ele elogiando até o AI-5), essas pessoas não fazem mea culpa. Continuam sua idolatria mas apenas deixam a adoração na gaveta de sua cabeceira mental.

Isso é terrível, porque a obra de Chico Xavier é, na verdade, uma coleção de desvios doutrinários graves ao Espiritismo e um festival de farsas mediúnicas num país como o Brasil, que sempre foi ignorante nos assuntos de paranormalidade e está em situação inferior à do mundo desenvolvido, que estava num estágio iniciante de compreensão do tema.

Ou seja, se a França de Kardec não conseguiu até hoje compreender o tema da paranormalidade, quanto mais o Brasil, muito menos instruído a respeito desse fenômeno. Portanto, por esse contexto podemos seguramente dizer que a atividade "mediúnica" de Chico Xavier sempre foi fraudulenta, contou com o apoio de terceiros e representou uma ofensa e uma galhofa à memória de muitos brasileiros mortos, famosos ou anônimos.

Isso é certo e as provas existem ou são passíveis de existir. Só falta a coragem de um jornalista investigativo, de um jurista mais coerente e de um acadêmico menos complacente, para que se investigue a fundo as irregularidades da deturpação espírita e da obra de Chico Xavier, que deveria deixar de ser idolatrado de toda forma, seja como "semi-deus" ou "imperfeito-humilde", para ser investigado de verdade, mesmo que isso possa ter como efeito o repúdio e a rejeição à sua pessoa. Devemos botar a lógica e o bom senso acima de tudo, e não a idolatria a uma pessoa.

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