Pular para o conteúdo principal

Sobre a traição de Judas e sobre a traição dos "espíritas" brasileiros


Mais grave do que errar uma vez e sem querer, é errar muitas vezes e de propósito. O que se conhece como Espiritismo, no Brasil, é uma religião traiçoeira, que junta uma perspectiva do sofrimento humano sob os olhos de Pôncio Pilatos e uma fidelidade doutrinária pior do que a de Judas Iscariotes.

Sobre este, devemos lembrar do caso do beijo de Judas, o "beijo da morte" do imaginário cristão. Judas beijando Jesus, jurando fidelidade, e, depois, ele era obrigado a denunciá-lo como uma figura perigosa para as autoridades do Império Romano e, num âmbito mais específico, para as autoridades religiosas da Judeia, como os escribas, espécie de sacerdotes movidos pela extravagância e falsa humildade.

Judas traiu Jesus uma única vez, assim como o pescador Pedro (hoje o São Pedro dos católicos) deu falso testemunho do seu mestre, três vezes. Mas o "movimento espírita", tão orgulhoso de sua pretensa fidelidade a Allan Kardec, bajulando o seu nome na temporada em que se celebra 150 anos de morte e tomando como gancho o tendencioso filme biográfico sobre o Codificador, comete atos de traição e falso testemunho cada vez piores.

Quanto ao falso testemunho, devemos perceber que, num Brasil que se encontra em posição bastante inferior ao da Europa e dos EUA quanto ao assunto de paranormalidade - europeus e estadunidenses ainda estão analisando o assunto, bastante controverso, daí que os brasileiros, menos informados, seriam os últimos a oferecer qualquer resposta a respeito - , a suposta mediunidade é na verdade uma gigantesca coleção de falsos testemunhos, dados não três vezes, mas milhares!

Os "médiuns" usam os nomes dos mortos da moda ou, então, os mortos anônimos por encomenda dos familiares. Depois, os "médiuns" criam uma mensagem de sua própria mente, baseados em informações colhidas de várias fontes. Essa mensagem serve de mera propaganda religiosa, a ponto de, se for o caso, usar até o nome do finado roqueiro Bon Scott, do AC/DC, para, como um "marqueteiro cristão", pedir para "todos nós nos unirmos na fraternidade de Jesus".

O "movimento espírita" comete delitos muito mais graves, e, digamos, muitíssimo mais graves do que a mais realista consciência pode imaginar, pois, em uma só tendência, falsos testemunhos, traições e até a reprodução dos vícios que Jesus denunciava dos escribas, dos fariseus e saduceus.

O "espiritismo" brasileiro, que se define pelo eufemismo de "kardecismo" - apesar de seu conteúdo fortemente roustanguista - , praticamente repaginou o Catolicismo medieval, que prevaleceu no Brasil durante sua fase de colônia portuguesa. O Catolicismo medieval era uma deturpação do Cristianismo primitivo feito pelos seus algozes, de uma linhagem de escribas e de autoridades romanas que resolveu, tendenciosamente, usurpar o legado daquele que o crucificaram.

Daí, por exemplo, a Teologia do Sofrimento, apoiada, com muito gosto e sem o menor escrúpulo, por Francisco Cândido Xavier. A forma com que Chico Xavier defendia o sofrimento humano - certa vez, ele o comparou, cinicamente, a um "vestibular" - é assustadora, com o artifício de palavras dóceis que mascaram a realidade cruel, porque quem sofre desgraças e é, obviamente, prejudicado por elas, nunca ficará feliz com isso. Desgraça não é desafio.

A falsa sabedoria, a fingida humildade, a extravagância religiosa e a soberba são práticas inerentes ao "espiritismo" brasileiro. A arrogância diante de problemas como o aborto em casos de estupro e riscos à saúde da gestante e de impasses sofridos pelos desafortunados, que fazem muitos membros de "auxílios fraternos" fazerem juízos de valor a seus atendidos, sem saber a natureza de seus sofrimentos, são coisas aberrantes e deveriam não ser relativizadas.

Criou-se uma mania de dizer que "os espíritas erram muito", "os espíritas são endividados", "os espíritas são imperfeitos", mas tudo isso não passa de um jogo de palavras que tenta, com a pretensa admissão do erro, evitar assumir responsabilidades e consequências drásticas para as traições que essa religião faz contra seu próprio Codificador.

CHICO XAVIER E DIVALDO FRANCO, OS INIMIGOS INTERNOS

Judas Iscariotes traiu Jesus uma vez. Se bem que a descoberta de um Evangelho apócrifo sobre Judas revela que ele teria sido, realmente, forçado a denunciá-lo. O documento é controverso, mas indica que Judas não era exatamente o traidor que a posteridade lhe atribuiu. E isso coloca os "espíritas" em situação complicada, como numa sinuca de bico.

Afinal, se oficialmente se atribui a traição de Judas a uma única situação e há uma tese contradizendo essa traição, o que dizer das traições que, todos os dias, os "kardecistas" fazem a Allan Kardec? Trai-se e beija o traído com toda frequência, num processo de traição sem fim.

Isso é muito mais covarde, deplorável, desonesto. Quem é bem informado saberá que o "espiritismo" brasileiro vende gato por lebre, pregando igrejismo medieval como se fosse a própria Codificação. E o pior é que as obras de Chico Xavier e Divaldo Franco, só para citar "médiuns" tidos como "renomados", são uma vergonhosa e perigosa coleção de desvios doutrinários graves!

E o mais grave é que Chico e Divaldo estão relacionados a práticas e posturas que O Livro dos Médiuns definiu como negativas: textos empolados, uso de nomes ilustres (personagens históricos ou grandes literatos) para impressionar o público, determinação de datas fixas para supor fatos futuros, mistificação ("crianças-índigo", "datas-limite" e "extra-terrestres") e erros em obras "mediúnicas" (que em dado momento sempre escapam dos aspectos pessoais dos autores mortos alegados).

Isso é fato e não se trata de interpretação de quem não gosta desses "médiuns". São coisas que um raciocínio simples pode identificar sem dificuldade. É doloroso para muitos, para é correto identificar Chico Xavier e Divaldo Franco como inimigos internos do Espiritismo, por conta de provas e de fatos verídicos consistentes.

Muitos imaginam o inimigo interno como aquele sujeito casmurro, com olhar sombrio, que fica escondido por trás, nas reuniões, que mal consegue fingir um sorriso e uma gentileza. Muitos se recusam a ver o inimigo interno como aquele que abraça, que faz gentilezas, que conversa com todo mundo e é querido por todos.

Isso é mal e fez muitas gerações de jovens se iludirem com os valentões da escola, figuras pretensamente carismáticas, embora cínicas e agressivas. A prática de bullying - termo que, infelizmente, não possui uma expressão oficial em português (talvez para manter o caráter "estrangeiro" do triste fenômeno) - sempre ocorreu no Brasil e, no entanto, muitos valentões saíram imunes, suas humilhações sempre foram vistas como "brincadeira saudável".

E é por isso que os brasileiros não têm o hábito de ver inimigos internos em pessoas que adotam um comportamento bonachão, cordial ou amistoso. O pior traidor pode ser aquele que paga um chopinho para a rapaziada, e quantos "beijos da morte" são dados por aqueles que muitos acreditam serem os aliados mais fiéis?

No sentido inverso dos que enfrentam a controvérsia de aparentemente revelar um Judas Iscariotes "sempre fiel a Jesus", as pessoas se assustam diante da ideia de que Chico Xavier e Divaldo Franco, ainda mais o primeiro, sejam inimigos internos da Doutrina Espírita. 

Mas suas ideias medievais e suas aberrantes extravagâncias confirmam isso e mostram o quanto nossos "espíritas" traem Allan Kardec 24 horas por dia, sete dias por semana, e ainda tem a coragem de continuarem beijando o Codificador, apesar disso.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Espiritismo, no Brasil, é reduzido a uma religião de louvor

O igrejismo com que foi tratado o Espiritismo, no Brasil, é muito mais grave do que se imagina e muito mais danoso do que se pode parecer. A catolicização, defendida sob o pretexto de que o Brasil expressa as tradições da religiosidade cristã, impossibilitou a compreensão correta da temática espírita, substituída por valores místicos e uma suposta fraternidade igrejeira que em nada resolve os conflitos humanos existentes. Tudo virou uma religião de mero louvor. Apesar das bajulações a Allan Kardec e da interpretação errada de suas ideias, seus ensinamentos nem de longe são sequer cumpridos e só eventualmente eles servem apenas para serem expostos de maneira distorcida e tendenciosa, de forma a temperar a vaidade explícita mas nunca assumida dos palestrantes e "médiuns". A adoração a Francisco Cândido Xavier, um sujeito de sórdida trajetória - ele se ascendeu às custas de pastiches literários lançados para provocar sensacionalismo - mas depois promovido a um semi-deus e

Com Espiritismo, brasileiros levam gato por lebre, sem saber

Nunca o Roustanguismo foi tão bem sucedido quanto no Brasil. O nome de Jean-Baptiste Roustaing, ou J. B. Roustaing, cujo sobrenome é considerado um palavrão por uma parcela do "movimento espírita", é desconhecido do grande público, mas seu legado foi dissolvido como açúcar em comida salgada e muitos acreditam que um roustanguismo repaginado é "espiritismo de verdade". Como o Roustanguismo teve no Brasil seu terreno mais fértil? Porque o igrejismo roustanguiano, apesar de oficialmente renegado na retórica "espírita", foi inteiramente seguido, descontado apenas alguns pontos incômodos, como os "criptógamos carnudos" (reencarnação humana em forma de animais, plantas ou vermes) e o "Jesus fluídico" (tese de que Jesus de Nazaré nunca passou de um fantasma "materializado")? Os brasileiros não gostam de serem informados de que o Espiritismo que aqui existe é deturpado e comete desvios doutrinários em relação à doutrina francesa

Como explicar, no Brasil, a deturpação do Espiritismo?

A vexaminosa cobertura dos 150 anos de morte de Allan Kardec atentou para uma grande omissão de uma informação importante. A de que o Espiritismo, no Brasil, foi desenvolvido desviando-se dos ensinamentos originais do pedagogo francês. Nem mesmo a BBC Brasil, sucursal da estatal britânica que, na sua equipe brasileira, prima por escrever bons textos de informação abrangente e senso investigativo, se encorajou a cobrir a deturpação do Espiritismo, se limitando a fazer, na prática, um press release  da "Federação Espírita Brasileira". Até o termo "espiritismo à brasileira", que denomina a deturpação, foi apenas mencionado sem que seu significado fosse sequer citado vagamente. A imprensa brasileira, mesmo a de esquerda, praticamente age em silêncio, salvo raras exceções, quanto à deturpação do Espiritismo. Poucos têm a coragem de alertar que a chamada "catolicização do Espiritismo" não é um fenômeno acidental nem ele é resultante de uma "saudável i