Pular para o conteúdo principal

Cuidado com certos críticos da deturpação do Espiritismo


ALAMAR RÉGIS CARVALHO E DIVALDO FRANCO SÃO EXEMPLOS DE PRETENSOS DEFENSORES DA FIDELIDADE DOUTRINÁRIA ESPÍRITA.

Devemos tomar muito cuidado não só com os falsos cristos e falsos profetas, pois há também os falsos erastos a fazer, de maneira tendenciosa, críticas à deturpação do Espiritismo, se passando por lobos em pele de cordeiro que fingem defender o rebanho ovino.

Há muitos deturpadores do Espiritismo que chegam com esse discurso, o de "combater a mistificação" e "pregar a fidelidade doutrinária". Muitos oradores habilidosos, muitos articulistas de linguagem pretensamente simples e popular, todos eles fazendo falsos alertas sobre os "constantinos" e "torquemadas" que "se escondem na seara espírita" (sem perceberem, usam o termo "seara", um jargão próprio dos deturpadores doutrinários) para transformar a doutrina num "novo Vaticano".

Quantos críticos de mentirinha surgem, uns tão grosseiramente definindo a deturpação do Espiritismo como a cobrança simplória de dízimos, a adoção de formalidades mil, como se o público fosse tolo em acreditar que "deturpação espírita" é só quando as reuniões "espíritas" passam a ter hóstia sagrada, com palestrante vestindo batina, ou quando as atividades "espíritas" copiam descaradamente os procedimentos da Igreja Universal do Reino de Deus.

O palestrante Alamar Régis Carvalho, já falecido, foi um desses lobos em pele de cordeiro que fingiam defender o rebanho ovino. Ele - famoso por cometer irregularidades trabalhistas, que morreu antes de ver sua tão sonhada reforma trabalhista virar lei nas mãos de Michel Temer - era famoso pelo discurso "vamos deixar de ser bestas" e falava, com certa presunção, do "perigo dos constantinos que querem vaticanizar a Doutrina Espírita".

Com seu malabarismo discursivo, Alamar dizia que "não há vários espiritismos, mas apenas um, o de Allan Kardec". Mas quando fala de igrejeiros e vaticanizadores mais consagrados, como Francisco Cândido Xavier e Divaldo Pereira Franco, Alamar os exalta, como se fossem "símbolos do mais puro humanismo".

E, apesar de ter sido um dos verborrágicos "arautos da fidelidade doutrinária", Alamar também perguntava se não havia virtude na obra de Jean-Baptiste Roustaing. Isso dá o tom da farsa de tantos "defensores doutrinários" que buscam enganar as pessoas.

O próprio Divaldo Franco também é um outro exemplo. Ele também, em alguns de seus discursos, alertava tendenciosamente para os "desvios à Doutrina Espírita", falando em obras "anti-doutrinárias" que fogem dos ensinamentos de Allan Kardec.

Há tantos outros que também fazem isso, e tantos que bajulam Erasto de Paneas, desviando o sentido original de suas palavras. Contrariando Kardec, esses verborrágicos bajuladores da "fidelidade doutrinária", como um ladrão que chama a polícia para denunciar o assalto de outros ladrões, tentam mencionar os erros do Espiritismo como se não fossem eles que praticassem.

CHICO XAVIER ABRIU A PORTEIRA

Como eles atribuem como "deturpação espírita" ou "desvio doutrinário"? Eles mencionam coisas simplórias e até mesmo caricaturais. É o palestrante que cobra dizimo, é a sessão de passes que oferece hóstia, é o escritor que mistura Astrologia e bota pornografia em romance "mediúnico", e tudo o mais.

Esquecem que os próprios denunciantes apelam para o igrejismo "espírita" com maior apetite do que aqueles que denunciam, que podem ser até inexistentes. Afinal, o deturpador "espírita" não é aquele que transforma as reuniões em covers dos cultos da Igreja Universal do Reino de Deus. O inimigo interno do Espiritismo não está passeando em Roma para ver o Papa, mas está nas bancadas de muitos seminários "espíritas", inclusive como atração principal.

Devemos também responsabilizar o próprio Chico Xavier, que costuma ser inocentado, sem mérito, pelos abusos cometidos sob o rótulo espírita. O próprio Chico Xavier começou todos esses abusos, ele abriu a porteira, o que ele fez com Humberto de Campos e o que ele pregou no livro Nosso Lar permitiu que as pessoas saíssem por aí lançando livros sobre o morto da moda e fantasiar demais sobre o mundo espiritual.

Se Chico Xavier botou criancinhas fofas no mundo espiritual, cometeu erros históricos sobre o Império Romano e as obras "mediúnicas" que levam o nome dos grandes escritores está abaixo do que eles haviam feito em vida, tudo isso criou um precedente para os abusos que se cometem.

E a "vaticanização"? Ninguém prestou atenção em muitos dos livros de Chico Xavier, que são de um igrejismo católico escancarado e gosmento. Não podemos relativizar, dizendo que ele teve origem católica etc, porque o compromisso, em tese, era dele romper com o Catolicismo e fazer um trabalho espírita de verdade, se ele tivesse realmente escrúpulos e interesse em assumir tal responsabilidade. Todavia, isso ele nunca teve e Chico foi o primeiro que "vaticanizou" a Doutrina dos Espíritos.

FOGUEIRA DE VAIDADES

O que devemos também verificar é que a cautela que devemos tomar contra certos críticos da deturpação espírita é que eles o fazem de maneira desonesta e mediante disputas internas nos "meios espíritas".

A desonestidade, sabemos, se dá porque os próprios críticos cometem a deturpação que atribuem aos outros. Aqui nos lembramos da lição da Bíblia, sobre o argueiro e a trave no olho, no qual os palestrantes "espíritas" tanto falam mal dos argueiros nos olhos dos outros, mas se esquecem da trave que lhes cega, pelo menos, um dos dois olhos.

Isso na verdade tem um interesse estratégico. Como, a partir de Chico Xavier, mediunidade virou uma farra, um "faz-de-conta que eu recebo um morto", que faz a festa quando é um morto da moda. Já estamos preparados para chegar um oportunista que irá usurpar, por exemplo, o nome do ateu Ricardo Boechat e, imitando sua linguagem nos artigos da Isto É e nos comentários da Band News FM, inventar que o jornalista "foi apresentado a Deus".

Como a mediunidade virou um fenômeno de fingimento, porque os brasileiros, que não têm concentração sequer para ouvir uma música, têm muito menos para receber contatos com mortos, o Brasil passou a ter "mais médiuns" do que se pode imaginar. Em tese, todos somos médiuns, mas a atividade mediúnica sugere um preparo e uma disciplina que praticamente inexistem no Brasil, mesmo em Chico Xavier. Exceções existem, mas elas são raríssimas e sem projeção.

Com isso, se multiplicaram os supostos médiuns e as supostas obras "espíritas". Neste caso até a produtividade literária de Chico Xavier também abriu mau precedente: vieram livros "espíritas" em quantidade industrial, com os desvios doutrinários que havia em Chico Xavier e Divaldo Franco mas que foram ainda mais longe, sobretudo no setor de romances "mediúnicos".

O mercado "espírita" virou até um "mercado de Midas" para muitos dramaturgos medíocres. Um sujeito escreve uma novela urbana e contemporânea ruim, que a emissora de TV não aceita, e também tem um rascunho de uma novela de época, passada em período mais antigo. São obras tão ruins que os personagens parecem ter trajetórias paralelas.

Aí o dramaturgo medíocre resolve, então, fundir as duas obras, alternando episódios contemporâneos e outros antigos e ligando personagens iguais de uma obra e outra em suposta relação reencarnacional. O dramaturgo que pensava num pseudônimo pode desistir e usar o nome dele mesmo, mas reservando aquele antigo nome artístico para um hipotético autor espiritual, de preferência um nome greco-latino, tipo "Victor Vinícius", "Aurelius" etc.

O mercado então é invadido por um cem-número de autores que eles podem tirar os veteranos do mercado. É por isso que surgiram e surgem reações, seja de gente que já faleceu, como Alamar Régis Carvalho e Richard Simonetti, seja de gente que está perto de "partir", como Divaldo Franco, seja de gente ainda viva e atuante, como Orson Peter Carrara e José Carlos De Lucca, por exemplo.

A ideia é transformar o mercado numa peneira, em que só ficam os "bons" (leia-se aqueles que têm um discurso mais, digamos, "profissional"). Daí que os best sellers e os festejados palestrantes "espíritas" falam contra os "deturpadores", não por realmente criticar a deturpação, mas para afastar a concorrência menos habilidosa que está investindo em livros "espíritas".

A ideia, portanto, é derrubar a concorrência. E quem é atingido é justamente quem adota como fórmulas mais explícitas aquilo que os mais habilidosos praticam de maneira mais sutil. Por isso a suposta crítica à deturpação, à "vaticanização" e ao "dilúvio de livros pseudo-espíritas" não deve ser entendida como um manifesto à fidelidade doutrinária a Kardec, porque os críticos são tão ou mais "vaticanizados" do que aqueles a quem criticam. Só são "vaticanizados" mais espertos.

Isso ocorre porque há muito iniciante que, lendo, por exemplo, Nosso Lar, e os depoimentos de Chico Xavier, que disse que no mundo espiritual há cinema, ônibus BRT (aeróbus), gatinhos e cãezinhos, passarinhos voando por árvores frondosas etc. Tudo isso já é aberrante e foi feito por Chico Xavier ao completo e vergonhoso arrepio da Ciência Espírita original, pois não há fundamento de que mundos espirituais sejam imitação do que existe na Terra (e nem o inverso, diga-se de passagem).

E aí se insere pornografia, sensualismo, ocultismo etc. Da parte dos escritores iniciantes, isso vira deplorável, "anti-espírita", "anti-doutrinário". Tudo bem. Mas e Chico Xavier com os "bônus-hora", espécie de misto de salário com Bilhete Único - inspirado nos cartões de crédito, uma novidade em 1943, ano de Nosso Lar - , está de acordo com os postulados espíritas? De jeito nenhum!

No "movimento espírita", o que existem são aqueles que enchem seus peitos ao falarem mal dos argueiros nos olhos dos outros. Esquecem os próprios "espíritas" que eles, a partir do próprio Chico Xavier, têm ou tiveram cada um uma violenta trave no seu olho da qual não percebem. Chico Xavier, mais do que cego de um olho, tinha um olhar "espírita" bastante travado. Essa é a realidade.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Espiritismo, no Brasil, é reduzido a uma religião de louvor

O igrejismo com que foi tratado o Espiritismo, no Brasil, é muito mais grave do que se imagina e muito mais danoso do que se pode parecer. A catolicização, defendida sob o pretexto de que o Brasil expressa as tradições da religiosidade cristã, impossibilitou a compreensão correta da temática espírita, substituída por valores místicos e uma suposta fraternidade igrejeira que em nada resolve os conflitos humanos existentes. Tudo virou uma religião de mero louvor. Apesar das bajulações a Allan Kardec e da interpretação errada de suas ideias, seus ensinamentos nem de longe são sequer cumpridos e só eventualmente eles servem apenas para serem expostos de maneira distorcida e tendenciosa, de forma a temperar a vaidade explícita mas nunca assumida dos palestrantes e "médiuns". A adoração a Francisco Cândido Xavier, um sujeito de sórdida trajetória - ele se ascendeu às custas de pastiches literários lançados para provocar sensacionalismo - mas depois promovido a um semi-deus e

Com Espiritismo, brasileiros levam gato por lebre, sem saber

Nunca o Roustanguismo foi tão bem sucedido quanto no Brasil. O nome de Jean-Baptiste Roustaing, ou J. B. Roustaing, cujo sobrenome é considerado um palavrão por uma parcela do "movimento espírita", é desconhecido do grande público, mas seu legado foi dissolvido como açúcar em comida salgada e muitos acreditam que um roustanguismo repaginado é "espiritismo de verdade". Como o Roustanguismo teve no Brasil seu terreno mais fértil? Porque o igrejismo roustanguiano, apesar de oficialmente renegado na retórica "espírita", foi inteiramente seguido, descontado apenas alguns pontos incômodos, como os "criptógamos carnudos" (reencarnação humana em forma de animais, plantas ou vermes) e o "Jesus fluídico" (tese de que Jesus de Nazaré nunca passou de um fantasma "materializado")? Os brasileiros não gostam de serem informados de que o Espiritismo que aqui existe é deturpado e comete desvios doutrinários em relação à doutrina francesa

Como explicar, no Brasil, a deturpação do Espiritismo?

A vexaminosa cobertura dos 150 anos de morte de Allan Kardec atentou para uma grande omissão de uma informação importante. A de que o Espiritismo, no Brasil, foi desenvolvido desviando-se dos ensinamentos originais do pedagogo francês. Nem mesmo a BBC Brasil, sucursal da estatal britânica que, na sua equipe brasileira, prima por escrever bons textos de informação abrangente e senso investigativo, se encorajou a cobrir a deturpação do Espiritismo, se limitando a fazer, na prática, um press release  da "Federação Espírita Brasileira". Até o termo "espiritismo à brasileira", que denomina a deturpação, foi apenas mencionado sem que seu significado fosse sequer citado vagamente. A imprensa brasileira, mesmo a de esquerda, praticamente age em silêncio, salvo raras exceções, quanto à deturpação do Espiritismo. Poucos têm a coragem de alertar que a chamada "catolicização do Espiritismo" não é um fenômeno acidental nem ele é resultante de uma "saudável i