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Espiritismo, no Brasil, virou mero igrejismo



Tomando por base traduções deturpadas de Allan Kardec, nas quais se pode colocar o Codificador combatendo as suas ideias, os mistificadores do "espiritismo à brasileira" adotam um discurso raivoso, sempre desqualificando seus contestadores e evitando que a Lógica e a Razão sejam mantidos em sua integridade.

Sob a desculpa de que "sem religião é impossível haver Espiritismo", esses mistificadores que transformaram o legado kardeciano num sub-Catolicismo, extremamente cafajeste nas suas concessões religiosas, claramente medievais, mas travestidas de "cientificismo equilibrado", tentam justificar a "vaticanização do Espiritismo" da seguinte forma:

1) Atribuem os vícios da "vaticanização" apenas a pregadores "espíritas" menores, de forma a criar uma peneira de escritores "espíritas" para evitar que novos autores ameaçassem as vendas dos medalhões. Dessa maneira, acusam-se os emergentes que atuam à margem dos medalhões de "vaticanizarem a Doutrina Espírita", porque as obras desses são pouco sutis na catolicização, diferente de Francisco Cândido Xavier e Divaldo Franco, que tiveram habilidade de enganar com falso cientificismo;

2) Quando se trata dos "peixes grandes" do "movimento espírita" - e isso inclui os "admiráveis médiuns" - , a "catolicização" é considerada "saudável", porque ela, em tese, segue as tradições da religiosidade popular brasileira e as lições do Cristianismo primitivo. Isso tudo é falacioso, mas é um discurso que convence muitos incautos e faz prevalecer o igrejismo no "movimento espírita".

Há um texto, abaixo, que mostra toda a defesa do igrejismo "espírita", um texto raivoso, porque os defensores desse "espiritismo" de Chico Xavier não aceitam serem contrariados, reagindo com ameaças, chantagens e muito ódio, o que contradiz a imagem tão "positiva", se não "purificada", dos seguidores do "médium", que podem ser mansos quando tudo lhes cai bem, mas quando não passam a reagir como verdadeiros cães raivosos.

Jorge Hessen, espécie de roustanguista não-assumido e supostamente situado no meio-termo entre "científicos" e "místicos" - um falso equilíbrio que permite que se fuja dos ensinamentos kardecianos originais, dando espaço aos deturpadores - , escreveu esse texto, no qual distorce uma frase de Allan Kardec, trazida no discurso de abertura da reunião da Sociedade Espírita de Paris, em 01 de novembro de 1868: "O Espiritismo é uma religião e nós nos ufanamos disso".

Na verdade, Allan Kardec não quis promover uma farra igrejista. Ele sempre condicionou a Fé e a Religião aos limites da lógica. Fora desses limites, elas não têm validade. Kardec nunca falou que a Fé e a Religião estivessem acima da Razão, e nunca aprovaria o que se fez com a Doutrina Espírita no Brasil, mas, pelo contrário, teria reprovado, com muita severidade, até uma pretensa unanimidade que oficialmente se considera Chico Xavier. Vejamos o que o professor lionês escreveu, num trecho:

"O elo estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objeto, é, portanto, um elo essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não é apenas o fato de compromissos materiais que eles quebram à vontade, ou a realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que à mente. O efeito deste vínculo moral é estabelecer entre aqueles a quem une, como conseqüência da comunidade de visões e sentimentos, fraternidade e solidariedade, indulgência mútua e benevolência. É nesse sentido que também dizemos: a religião da amizade, a religião da família.

Se assim for, será dito que o Espiritismo é uma religião? Bem, sim! sem dúvida, cavalheiros; No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos orgulhamos dele, porque é a doutrina que funda os laços de fraternidade e comunhão de pensamento, não em uma simples convenção, mas na base de mais sólido: as próprias leis da natureza".

Infelizmente, tudo isso é interpretado de maneira leviana, em causa própria, pelos "espíritas" brasileiros, seja Jorge Hessen, seja Divaldo Franco, seja Alamar Régis Carvalho, seja Chico Xavier, seja o que for de igrejeiro de "casa espírita" dos mais diversos tipos.

O "espiritismo" brasileiro entende essa aparente concessão de Kardec da mesma forma que o estuprador entende que, como uma criança não costuma negar as seduções de um espertalhão, seus atos malignos se tornam permissíveis. Em outras palavras, segundo o estuprador, como a criança é inocente e aceita fácil as coisas, ele se julga autorizado a estuprá-la. É esse o raciocínio que domina os "espíritas" brasileiros: se existe racionalidade e a Fé é inocente, vale "estuprar" e até "matar" a Razão.

Em vários textos hipócritas - Hessen usa, em causa própria, o trecho "conforme as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor que um homem caia do que muitos sejam enganados e se tornem suas vítimas", quando na verdade o referido articulista está defendendo os hipócritas ao seu lado que, arrogantemente, usam a Fé como o território da pretensa verdade, a Fé que deseja que a Razão lhe seja sua escrava, a passar pano em ideias que eventualmente fujam da Lógica e do Bom Senso.

Além disso, Hessen também cita uma frase de Chico Xavier: "Se tirarem Jesus do Espiritismo, vira comédia. Se tirarem Religião do Espiritismo, vira um negócio". Quantos aspectos ridículos se observam no Espiritismo catolicizado, que pede o tempo todo para os sofredores da vida atual aceitarem suas desgraças, repetindo neles o martírio de Jesus Cristo, que os "admiráveis cristãos espíritas", seguindo um "Cristianismo segundo Pôncio Pilatos", se alegram com o sofrimento do mestre da Judeia, usando sua agonia na cruz para comprarem o Céu com suas pregações fúteis!

E quanta cupidez não existe sob o "movimento espírita", escondida sob a capa da "saudável religiosidade"? E o milionário comércio de livros mistificadores de Chico Xavier, com seu moralismo medieval, defendendo o trabalho exaustivo, a servidão humana, a conformação com o pior sofrimento?

A própria arrogância e o tom explicitamente agressivo de Jorge Hessen nos faz sentir pena desses pretensos cristãos, frustrados em não serem católicos exemplares. E ainda mais quando estes se enfurecem quando são questionados, ofendendo os "kardequólogos" que duvidam das "virtudes" do "suposto" emmanuelismo, porque os "espíritas" sabem que vendem mais livros promovendo a mistificação, que é travestida de "religiosidade saudável". Se irritam quando o "fantasma" da Lógica compromete o sossego mercadológico dos "admiráveis espíritas cristãos".

Os "espíritas", com seu vitimismo, falam em serem vítimas da intolerância religiosa que não os atinge (ela só pega religiões de povos humildes, como o Islamismo e o Candomblé). Mas são intolerantes com os católicos, quando estes superam, em lógica e calma, os "espíritas" que, em surtos raivosos, chegam a implicar com o sotaque de Padre Quevedo, com o fim da desmoralização gratuita, só porque ele contestou Chico Xavier usando argumentos bastante lógicos e consistentes.

Vamos ao texto hidrófobo de Jorge Hessen, seu manifesto em defesa do igrejismo "espírita", cheio de incoerências e dotado de argumentação hipócrita e que ofenderia sem dúvida o mestre Allan Kardec, com suas palavras e argumentos tão levianamente distorcidos por pessoas ambiciosas que se escondem sob a capa da religiosidade cristã:

“O ESPIRITISMO É UMA RELIGIÃO E NÓS NOS UFANAMOS DISSO” 

Por Jorge Hessen

Circula pela Internet, e também através de alguns periódicos espíritas, absurdas críticas à literatura de Emmanuel. Trata-se, sem dúvida, de improfícua tentativa de desmerecer a extraordinária obra do excelso médium Chico Xavier e de entronizar-se a hegemonia ideológica desses agentes da perturbação.

Não é preciso fazer um grande esforço para identificar nesses irmãos a carência de sensatez, pelo fato de encontrarem-se inteiramente distanciados da Doutrina dos Espíritos, engolfados nas malhas do fascínio obsessivo.

Melancólicos críticos de Chico Xavier, Emmanuel e André Luiz, tais confrades permanecem no torpor hipnótico, delirando no interior de uma composição descarrilada que culminou na tolice apontada como "emmanuelismo", patrocinada por “espíritas” que não têm mais o que fazer de útil.

Essa ojeriza a Emmanuel há muito existe no movimento Espírita, da mesma forma a aversão a André Luiz, desde a publicação de Nosso Lar. Recentemente, deliberei assistir a uma apresentação em vídeo sobre o que apelidam de “Emmanuelismo”. Vi; contudo, não suportei a mutilada pseudopesquisa e parei de assistir para não obliterar meu mundo cerebral. Entre as “preciosidades” do conteúdo, afirma-se que até para os próprios “espíritas” Emmanuel é um “pseudo-sábio”. Não sei em qual fonte bebericaram para afirmação tão incoerente.


A fundamental descrição de Emmanuel que faço é: ele nem enaltece, nem recrimina. Demonstra, conscientiza. É veemente, faz notar que os que se recuperam são incólumes aos horrores do amanhã. Por isso exorta-nos à reforma íntima. Nós que o interpretamos e consentimos venerá-lo, deixamos escapar um grito de conforto: "Sim, nós somos capazes! Isso é meio poético, mas é assim que sinto o Benfeitor Emmanuel.

É evidente que para um Espírita consciente o assunto cheira a discussão estéril, sem lógica. Retrucá-lo pode ser perda de tempo, mas como estou aposentado vou utilizar um tempinho para escrever sobre essa doideira. Lembrando que terei o cuidado para não esbarrar na mesma faixa de sintonia.

É risível o esforço dos confrades (reencarnações tupiniquins dos ex-científicos de século XIX) que consideram Emmanuel um pseudo-sábio. Quem consideram sábio? Afonso Angeli Torteroli? Ou eles mesmos? irrisão!! Escrevo para alertar os leitores, pois “conforme as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor que um homem caia do que muitos sejam enganados e se tornem suas vítimas".

Esses irmãos, sob o guante de fértil imaginação e desnorteados no raciocínio, reverberam que o jovem “católico”, Chico Xavier, quando teve a visão mediúnica daquele que teria sido o Padre Manoel da Nóbrega, em pretérita encarnação, e que passou a ser identificado como Emmanuel, certificou-se de que este seria o seu Mentor Espiritual. Com isso, todo o processo mediúnico do extraordinário médium mineiro foi plasmado por um “misticismo católico”. (!?...)

Destarte, os atuais idólatras de Torteroli (aquele “científico” que abusava da resignação do “místico” Bezerra de Menezes, no século XIX, andam dizendo que por ter sido jesuíta Emmanuel impôs um viés catoliquizante no Movimento Espírita. Ora, se esses companheiros estudassem com inteligência os princípios espíritas identificariam que o Espiritismo não precisou se catoliquizar com as sublimes mensagens do grande arquiteto do catolicismo, o Doctor Gratia, Aurélio Agostinho, ex-bispo de Hipona, que ditou dezenas mensagens insertas no Pentateuco Kardeciano.

O importante é a essência de suas orientações, que em nada ferem a Terceira Revelação; ao contrário, contribuem para clareá-la ao fulgor do Evangelho. "O Espiritismo é uma doutrina moral que fortalece os sentimentos religiosos em geral, e se aplica a todas as religiões; é de todas, e não pertence a nenhuma em particular. Por isso não aconselha ninguém que mude de religião.”(2)

A rigor, o que está escamoteado na retórica desses aventureiros da ilusão, sob o tema “Emmanuelismo”, é, nada mais nada menos, o aspecto religioso da Doutrina Espírita sustentado dignamente no Brasil pela FEB e abrilhantado por Chico Xavier na prática mediúnica. Esses kardequeólogos “PhD’s de coisa nenhuma”, longe do uso do bom senso, insistem em divulgar a “progressista” tese de que se é preciso fugir do “Cristo Católico”, do religiosismo, do igrejismo no Espiritismo e transformá-lo numa academia de expoentes do “saber”, sob a batuta deles, obviamente! Isso só pode ser chacota!

Sob o império dessa compulsiva tendência filosófica, vão para a internet, redigem livros, artigos, promovem palestras inócuas, aguilhoados às diretivas telepáticas das “inteligências” sombrias do Umbral. Mas, gostem ou não, queiram ou não, o Cristo é o modelo de virtudes para todos os homens.

Tais confrades têm-se colocado como vítimas da pecha de afugentadores do Mestre Jesus das hostes doutrinárias. Trôpegos, cavalgam sem norte, suspirando a falácia de que peregrinam o calvário do xenofobismo contra eles. Talvez porque, numa entrevista cedida a confrades de Uberaba, Chico advertiu: "Se tirarem Jesus do Espiritismo, vira comédia. Se tirarem Religião do Espiritismo, vira um negócio. A Doutrina Espírita é ciência, filosofia e religião. Se tirarem a religião, o que é que fica? Jesus está na nossa vivência diária, porquanto em nossas dificuldades e provações, o primeiro nome de que nos lembramos, capaz de nos proporcionar alívio e reconforto, é JESUS."

Atacam, até, a figura do pioneiríssimo Olympio Teles de Menezes, alcunhando-o de espiritólico. As hordas das regiões densas são poderosas e se "organizam", uma vez que têm, como meta, a proscrição de Jesus dos estudos espíritas. Confrades esses, aprisionados por astutos cavaleiros das brumas umbralinas, atestam que Kardec escreveu o Evangelho para apaziguar os teólogos, tentando uma aproximação com a Igreja (pasme, acredite se quiser!).

Ficam rubros de fúria quando leem Kardec, que afirmou: "O Espiritismo é uma religião e nós nos ufanamos disso." Além disso, o Espírito São Luís adverte que "os espíritos não vêm subverter a religião, como alguns o pretendem. Vêm, ao contrário, confirmá-la, sancioná-la por provas irrecusáveis. Daqui a algum tempo, muito maior será do que é hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e crentes.". O mestre lionês assevera com todas as letras de "espiritismo repousa sobre as bases fundamentais da religião e respeita todas as crenças; um de seus efeitos é incutir sentimentos religiosos nos que os não possuem, fortalecê-los nos que os tenham vacilantes.".

Para os arautos da anti-religião doutrinária, que afirmam ser "Jesus somente o emergir de um arquétipo plasmado no inconsciente coletivo" afirmamos que o Mestre da Galiléia foi a manifestação do amor de Deus, a personificação de sua bondade. Para o célebre pedagogo e gênio de Lyon, o Cristo foi "Espírito superior da ordem mais elevada, Messias, Espírito Puro, Enviado de Deus, é Diretor angélico do orbe e Síntese do amor divino".

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