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Medo de adultos e idosos de investigações sobre Espiritismo se nivela a teimosia infantil



As pessoas ainda têm muito medo. Os textos que mostram irregularidades graves sobre Francisco Cândido Xavier - que poucos reconhecem como um gravíssimo deturpador da causa espírita e o primeiro a investir na "vaticanização do Espiritismo" - estão entre os menos lidos na Internet.

Com medo de ver ruir a imagem fantasiosa de Chico Xavier, construída por uma engenhosa campanha midiática iniciada durante a ditadura militar, as pessoas correm de medo dos textos reveladores. Mas essas pessoas também não leem os próprios livros de Chico Xavier, e preferem ficar na adoração movida pela leitura dos memes nas redes sociais e na apreciação de filmes e documentários chapas-brancas sobre o "médium".

Essa situação revela um grande surrealismo. Na verdade, Chico Xavier nem de longe é a figura adorável que muitos imaginam. Para piorar, ele também não é aquele "médium que cometeu errinhos de nada". Sua trajetória envolve episódios arrepiantes, nos quais ele mesmo provocou confusão a partir de um estranho livro chamado Parnaso de Além-Túmulo, que pode ser chamado de tudo menos de "obra mediúnica autêntica".

Afinal, alguma pessoa, em sã consciência, acreditaria mesmo num livro desses que, tido como "coleção de mensagens de benfeitores espirituais", sofreu cinco reparações sucessivas pelos homens da Terra? E, além disso, num Brasil ainda "analfabeto" em paranormalidade, surja assim do nada um livro "cheio de espíritos de poetas criando obras inéditas do mundo espiritual"?

E como explicar, então, que Olavo Bilac e Auta de Souza "perderam" seus estilos para "voltarem" escrevendo como Chico Xavier, enquanto outros como Casimiro de Abreu e Castro Alves aparecem caricatos, como se seus poemas tivessem sido parodiados pelo Casseta & Planeta?

Só isso são erros muito graves. Chico Xavier nunca teve a trajetória íntegra e elegante de Jesus de Nazaré e Allan Kardec. Diferente deles, Chico causou muita confusão em busca de obter fama através de sensacionalismo e, neste caso, aqueles que o "combateram", como os críticos literários mais sérios, é que estão com a razão.

O prestígio religioso não pode permitir que pessoas que pratiquem confusão estejam com a razão, só por causa de supostas simbologias ligadas à "caridade", ao "amor ao próximo" e à "promoção da paz". Não existe fraternidade entre o Bom Senso e o Contrassenso. O próprio Kardec reprovava a supremacia da Fé sobre a Razão, se a Fé passa à margem da Lógica, ela não tem o menor valor.

O Espiritismo brasileiro é deturpado. Mas ninguém tem coragem de noticiar. Acadêmicos estão com medo. Jornalistas estão com medo. Juristas estão com medo. Cidadãos comuns estão com medo. Todo mundo está com medo, porque acha que vai mexer com vespeiro, porque acham que vai surgir urucubaca depois de investigar pessoas que acham que falam com os mortos. Acham que os mortos reaparecerão para assombrar as pessoas.

Esse medo é uma paranoia infantil, que, de maneira preocupante, assombra os adultos. Uns têm medo de contestar Chico Xavier achando que ele realmente falava com os mortos. Temem ser ameaçados por estes, o que é um absurdo. Afinal, essa carteirada pseudo-mediúnica fez com que o deturpador e criador de literatura fake se tornasse temido e obedecido por todos, e isso é horrível. Chico Xavier era um político do PSDB (partido que ele apoiou no final da vida) levado às últimas consequências.

Nem crianças se comportam mais assim. Muitos meninos e meninas, que por sinal já se mantém bem informados pelo uso intenso da Internet, já estão cansados de saber, por exemplo, que Papai Noel nunca existiu. Os mais velhos, entre adultos e idosos, é que estão em situação pior, temendo ver ruir a mitificação adocicada de um Chico Xavier cuja cabeça flutua no céu ou nasce do abrir de uma flor.

Essa sensação é terrível e mostra o grande grau de imaturidade dos mais velhos, que são os que mais cometem gafes e outras caneladas na vida. É chocante para muitos comparar Chico Xavier com Jair Bolsonaro, mas ambos são produtos de um mesmo inconsciente coletivo, são ídolos produzidos pela mesma catarse e outras condições psicológicas similares.

Ambos se tornaram adorados porque as pessoas veem televisão demais. O estereótipo do homem caridoso das novelas da Rede Globo, o justiceiro fardado dos filmes do Domingo Maior, tudo isso atende a perspectivas fantasiosas, catárticas e imediatistas que fazem com que a gente grande seja tomada de teimosias infantis, antes um fenômeno restrito à infância.

Além disso, a adoração a Chico Xavier revela uma insegurança quando pessoas veem textos contrários ao seu "mito" (sim, Chico Xavier, assim como Jair Bolsonaro, também é "mito"), e fogem deles para que suas fantasias sonhadoras de voar sob o céu azul e sobre um jardim de flores guiados pelo "médium" não se desfaçam.

Nem a caridade Chico Xavier praticou, porque ele apenas pedia aos outros para doar objetos e mantimentos, ser voluntários do Assistencialismo e praticar essa "caridade" paliativa que não rompe com os problemas mais complexos da pobreza humana. Ele não praticava a caridade, mas se promovia com a caridade alheia, que, ainda assim, também era fajuta, porque trazia efeitos mais paliativos e nunca transformou, de verdade, as vidas dos mais necessitados.

Ainda assim, a teimosia dos adultos continua. O medo de ler textos reveladores, de ser informado que aquelas "lindas mensagens espirituais" são uma farsa, mostra o quanto os adultos são inseguros. E teriam que usar a adoração a Chico Xavier como pretexto de que gostam de "velhinhos frágeis e humildes"?

Tantos chiquistas jogam suas sogras no asilo mais precário, seus pais e avós em algum "depósito de velhos" que encontrar pela frente. Tantos chiquistas, em seus carros, fecham as janelas para os pedintes. Sem falar que, entre os objetos da "caridade", há muita roupa rasgada, manchada, desbotada, como se a filantropia fosse um depósito de lixo.

Há muito o que questionar sobre Chico Xavier, que, nos anos 1940, tinha uma reputação deplorável de farsante literário, de produtor de sensacionalismo para obter vantagens pessoais. E, se muitos acham que ele depois "aprendeu", se enganam. Chico Xavier, na velhice, tornou-se apenas uma subcelebridade que recebia os aplausos e os prêmios da Terra sem fazer muita coisa, e ainda mais prejudicando o Espiritismo que, em suas mãos, virou um pastiche medievalizado do Catolicismo.

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