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O "espiritismo à brasileira" empurrou problemas com a barriga. Mas eles voltam



O "espiritismo" brasileiro sofre uma grave crise por suas más escolhas. Desde que preferiu a aventura do roustanguismo, o "movimento espírita" sofre as consequências drásticas e tenta se livrar dos problemas empurrando com a barriga, "expulsando" aqueles que, tanto do lado da deturpação quanto das bases doutrinárias, atrapalhariam o interesse da religião brasileira.

São várias situações escandalosas que fizeram os dirigentes do "espiritismo à brasileira" driblarem a situação e usarem artifícios que resultaram na religião insossa que é hoje: um roustanguismo sem J. B. Roustaing um "kardecismo" altamente igrejista, um "espiritismo" supostamente autêntico em que se permite a erosão doutrinária - quando temáticas espíritas são deixadas de lado em nome de assuntos banais de moralismo familiar - em nome da "caridade".

Roustaing foi o primeiro a ser jogado debaixo do tapete. Defendido com entusiasmo nos primórdios do "movimento espírita" - o médico Adolfo Bezerra de Menezes, o dr. Bezerra, introduziu Os Quatro Evangelhos no Brasil - , Jean-Baptiste Roustaing (que chegou a ser apelidado, pelos brasileiros, de "João Batista Roustaing") virou um "palavrão" depois que conhecidas controvérsias, como o mito do "Jesus fluídico" (que prega que Jesus Cristo não era encarnado), causaram muita confusão.

As acusações de que o roustanguismo estaria "catolicizando" o Espiritismo também fizeram com que o advogado de Bordéus, depois desafeto de Allan Kardec, fosse descartado formalmente. No entanto, o pensamento kardeciano foi deturpado sem os pontos polêmicos de Roustaing, e se a obra kardeciana passou a ser interpretada de maneira igrejista, a obra roustanguiana foi adaptada, a partir de Francisco Cândido Xavier, de maneira menos controversa e mais agradável.

O próprio Chico Xavier foi um sujeito que causou muita confusão, a partir do estranho livro Parnaso de Além-Túmulo, um livro tão estranho que existem não só fortes indícios, mas também provas de ser uma obra fake, atribuição nunca oficialmente reconhecida por causa do prestígio religioso do "médium".

Só as confusões de Chico Xavier enxotaram aqueles que poderiam denunciá-lo. O jornalista investigativo Attila Paes Barreto e o crítico literário Osório Borba caíram no esquecimento. O sobrinho Amauri Xavier foi morto em provável assassinato por queima de arquivo. A farsante Otília Diogo foi desmascarada, presa e depois solta para um ostracismo até o fim da vida.

Além disso, "médiuns" de atuação supostamente independente, como Zé Arigó (que dizia receber o médico alemão Adolph Fritz), Roberto Lemgruber (que tinha quadro no popularesco programa O Povo na TV, do SBT) e, recentemente, o latifundiário goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, estão sendo descartados como se fossem "estranhos" ao "movimento espírita".

Chico Xavier foi uma das personalidades mais blindadas do Brasil. Talvez a mais blindada, com um privilégio de fazer inveja ao mais ambicioso político do PSDB, se não manifestasse adoração ao "médium" (como Aécio Neves, comparado a Chico pela esperteza "mineira").

A ascensão de Chico Xavier foi feita à base de muita confusão, o que contraria o mito de "figura de trajetória limpa e íntegra". A narrativa do "homem humilde que falava com os mortos e socorria os pobres" é falsa e tendenciosa, além de ter sido uma retórica montada pela ditadura militar, com base no que Malcolm Muggeridge fez com a megera Madre Teresa de Calcutá. Malcolm é conhecido como o "fabricante de santos" por conta do método que adotou para promover a albanesa.

Para salvar a reputação de Chico Xavier, se enxotou, como quem expulsa cães vira-lata, aqueles que iriam prejudicar a sua ascensão, de pastichador literário a semi-deus (atualmente, fala-se de um "Chico Xavier imperfeito e que errou muito", mas isso é uma carteirada por baixo que não resolve problema algum).

Só que o calote moral resultante disso tudo faz aumentar a conta e as dívidas, em dado momento, voltam. O "médium" que vendeu como se fosse "pensamento progressista" ideias retrógradas da Teologia do Sofrimento tornou-se uma pretensa unanimidade assim de graça, e, mesmo cometendo grandes rupturas com o pensamento kardeciano, ainda espalharam um boato de que Chico Xavier era a reencarnação de Kardec, o que é um gigantesco absurdo.

O "movimento espírita" está prestes a ver "voltarem" as personalidades que enxotou e que "retornam" para um acerto de contas. A religião que criou um rosto para o fictício André Luiz saberá até mesmo do rosto de Roustaing, ainda que através de um retrato falado.

Outros personagens, de diversos lados, como Attila Paes Barreto (alguém irá descobrir seu livro O Enigma Chico Xavier Posto à Clara Luz do Dia), Amauri Xavier, Otília Diogo e, mesmo vivo, João de Deus, "reaparecerão" no "meio espírita" para o acerto de contas da religião deturpada que, pior do que Judas Iscariotes, continua traindo Allan Kardec mas sempre lhe dá o "beijo da traição", com falsos juramentos de fidelidade.

Esse texto parece muito cruel, mas é necessário lembrar que, embora haja o livre arbítrio, existe também a necessidade de assumir responsabilidades, quando decisões erradas causam prejuízos. E muitos prejuízos foram causados pelo "espiritismo à brasileira", que não foram coisas pequenas e muito menos acidentais, a partir de sua coleção de desonestidades e desvios doutrinários graves.

É fácil fazer o que quiser, escondido na capa do prestígio religioso, e depois não querer assumir as consequências. É fácil dizer que "errou muito", culpar o espírito obsessor, por estar protegido por um pretenso carisma religioso. É fácil deturpar o Espiritismo e depois sair por aí cobrando dos outros para "não só conhecerem Kardec, mas vivê-lo intensamente no dia a dia", uma conhecida demagogia que os próprios traidores da Doutrina Espírita pregam para enganar o público.

Difícil é ver o quanto as más escolhas trazem más consequências, e depois recusar-se a admiti-las. É bom deixar claro que, diz o Espiritismo original, conhece-se a árvore pelos frutos, e os maus frutos não são gerados por boas árvores. E também não se dá bananas em laranjeiras.

Além disso, os "espíritas", quando bem lhe convieram, decidiram por más escolhas. Mas, fazendo a má plantação, terão que assumir a má colheita, em vez de ficarem usando desculpas aqui e ali. Dizer que "erra muito" só para fazer charminho e não assumir a conta pelo prejuízo causado não vale, e só irá complicar ainda mais as coisas para esse roustanguismo não-assumido do "espiritismo à brasileira".

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